19/12/2018 | às 17h17
Na última terça-feira (18), a Sala Walter da Silveira recebeu o lançamento do CD “Outros Caminhos São Possíveis”, desenvolvido por participantes do Programa Corra Pro Abraço, que tem o objetivo de levar cuidado para populações vulneráveis e promover o acesso da população em situação de rua, usuários de substâncias psicoativas e jovens aos serviços e programas governamentais.
As músicas do CD tiveram canções compostas coletiva e individualmente pelos participantes do programa, através de contribuições e oficinas dos arte-educadores Daiane Sodré, Dainho Xequerê, Joilson Oliveira, Marcos Costa, Merry Batista Sérgio Brito, Leo Rocha e Rubenval Menezes.
De acordo com o músico, professor de capoeira e arte-educador do programa, Dainho Xequerê, esse processo se iniciou há mais de três anos com as oficinas de rua. Foi um planejamento em que as pessoas traziam suas vivências e, a partir daí, criaram músicas coletivas. Inicialmente, as composições tinham apenas letras e as melodias foram sendo trabalhadas para criar o CD. “Esse processo vem acontecendo há bastante tempo e sempre tivemos o pensamento de gravar esse CD. Estou muito feliz com o resultado”, disse, em entrevista ao Portal Correio Nagô.
Xequerê explica que as oficinas foram iniciadas em 2017 na sede do Corra Pro Abraço. Após as composições coletivas, os assistidos do programa começaram a compor músicas individuais também. “Eles ainda não acreditavam que iriam gravar em um estúdio profissional. Quando chegou em abril deste ano, fomos para o estúdio do Ilê Aiyê e foi muita emoção para eles quando conseguiram ver todo o mecanismo, como é gravado…”, conta o arte-educador. Ele relata que a todo momento era uma emoção diferente, o tamanho do fone, o momento de escutar a própria voz nas caixas de som do estúdio. O processo de gravação do CD foi uma oportunidade para incentivar os assistidos a reduzir danos. Eles se ocupavam estudando as letras e, segundo Xequerê, eles já afirmavam que não iriam usar tal substância, pois no outro dia tinham gravação.
Além do lançamento, os assistidos fizeram um show no palco da Walter da Silveira, onde apresentaram as músicas. Ana Carolina, 25 anos, conheceu o Corra Pro Abraço desde que o programa foi iniciado e, segundo ela, foi algo que impactou bastante na sua vida. A jovem veio de São Paulo para Salvador quando se casou, entretanto, após o seu marido falecer, ela se viu obrigada a morar nas ruas. “Eu sou atriz, maquiadora, produtora de texto… sou tudo no Corra. Muitas coisas na minha vida mudaram, até parei de usar drogas”, relata ela que conheceu a redução de danos no programa e foi reduzindo até parar totalmente o uso das substâncias. Ela conta que hoje já investiu o seu dinheiro em uma casa alugada, onde mora atualmente.
O vendedor ambulante e estudante Robson Santos, 33 anos, também participou da produção do CD tocando instrumentos e cantando músicas. Ele conheceu o Corra através de conhecidos e, a partir daí, começou a frequentar. “Para mim, o maior impacto foi a oficina de leitura e escrita que me preparou para o vestibular. Eu concluí o ensino médio e agora estou estudando e pretendo entrar na Steve Biko [Instituto Cultural]”, conta ele que já fez o Enem este ano e pretende ingressar na área de saúde com o curso de enfermagem.
A coordenadora geral do Programa Corra Pro Abraço, Trícia Calmon, 34 anos, conta que dentro desse aprendizado os envolvidos no trabalho tiveram a surpresa de um resultado melhor do que o esperado. “A gente busca tratar os temas no campo da arte e dos talentos de maneira muito séria. Com essa trabalho a gente mostra para nós e para os participantes que a arte é uma coisa muito séria e que eles podem fazer algo com muito potencial”, finaliza.
Após os agradecimentos institucionais e o show de apresentação, os artistas falaram sobre as expectativas. Ana Carolina, por exemplo, demonstrou sua vontade de o programa se tornar uma política pública.
Ashley Malia é repórter-estagiária do Correio Nagô.
Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo