10/07/2018 | às 18h30
O universo da cultura negra sempre esteve presente na vida da jovem Loo Nascimento, mais conhecida nos stories do Instagram como Neyzona.
Filha do presidente do bloco afro Os Negões Paulo Roberto e da professora Josineia Nascimento, cresceu em um lar de potentes referências étnicas e raciais.
Sorridente e alto astral, Loo é daquelas cheias de looks inspiradores que vêm de longe: são ancestrais. Conheça a história da empreendedora e blogueira que veste corações.
ENTRE TRÂNSITOS E ANDANÇAS
Loo foi para São Paulo trabalhar como modelo e, durante sua trajetória, estudou também Cool Hunting. Mas o grande projeto da sua vida é a marca Dresscoração, que nasceu como um blog pessoal e se tornou uma marca de roupas. Ela conta que o projeto começou junto com o processo de construção da própria identidade, após viver um relacionamento abusivo.
“A Dresscoração me salvou e me fez reagir para a vida”, revela.
O blog da Dresscoração existe até hoje e, na época em que foi criado, as pessoas se sentiram atraídas por ser algo novo. Loo começou a pesquisar referências de moda no corpo de pessoas negras e encontrava inspirações em blogs gringos e em sites como o Tumblr. Loo conta que tudo que aconteceu foi girando dentro do seu próprio processo de autoconhecimento.
Começou para si mesma e não para ser famosa. E se deu conta da proporção que tudo tinha tomado quando parou para refletir sobre o quanto as pessoas estavam conectadas com esse projeto.
“Sabe aquela coisa de ‘vou parar e ninguém vai saber’? Quando outras pessoas começaram a se conectar, já não era mais sobre mim”, diz.
O blog começou a se transformar em marca quando completou um ano. A blogueira decidiu comemorar e, com a primeira parcela do seu décimo terceiro, fez as primeiras camisetas da marca, “Bonita Bonita Bonita”.
“Sempre fui apaixonada por roupas, mas nunca me imaginei fazendo roupa”, conta Loo Nascimento.
As amigas, no início, serviram de modelo para fotografar as blusas e colocar no Instagram. Fizeram sucesso. Quando tudo começou a andar, a tão amada Avenida Sete de Setembro, em Salvador, foi a grande parceira de Loo Nascimento. Foi lá onde começou a pesquisar estampas. Desde então, decidiu costurar e pesquisar ainda mais, principalmente as conexões de estampas brasileiras com os panos de África. A jovem começou, então, a entender que a cultura afrobrasileira contribui na culinária, na música, na estética e nos padrões de tecido e de estamparia. A Dresscoração, então, estava começando a tomar as formas que tem hoje.
Apesar de ter morado por muito tempo em São Paulo, Loo revela que a baianidade sempre foi um dos pilares da marca e gosta de reafirmar sempre que a marca é de Salvador. Luma Nascimento, a irmã, foi a grande sua grande companheira no quesito expandir a Dresscoração. Quando estava em São Paulo, Loo enviava as peças para Luma vender em Salvador, pois queria muito que a galera daqui usasse.
E a identidade baiana está intrinsecamente ligada à essência da marca, tanto é que as roupas têm referências baianas em seus nomes, como Saia Vatapá, Top Tapioca, dentre outros.
ESTÉTICA & MILITÂNCIA
Quando questionada sobre sua militância, a influenciadora digital não mede esforços ao afirmar que encontrou o seu lugar de militância na estética negra. A estética sempre foi muito latente na sua vida, pois a vaidade, como ela mesma diz, “é uma herança ancestral”. Foi em 2010 que Loo Nascimento percebeu que a estética poderia ser sua arma contra o racismo.
“Se você não tem autoestima e não se acha bonito, não consegue reagir pro mundo porque acha que nunca é digna de nada”, conta a blogueira.
Ela foi percebendo que a estética fazia parte da sua construção como pessoa, principalmente quando foi para São Paulo trabalhar como modelo. As referências de beleza sempre foram presentes em sua casa, com as mulheres da sua família sempre vaidosas. Loo lembra que quando criança sua tia fazia coleção da Revista Raça e uma das brincadeiras era incentivar a menina a imitar as maquiagens da revista.
“Eu não quero ser uma referência distante, aquela referência distante. Quero ser possível e que as pessoas pensem ‘se ela está lá, eu também posso’” – Loo Nascimento
Hoje, Loo Nascimento, a Neyzona, gosta de se inspirar em mulheres que estão mais próximas, como Xênia França, Magá Moura, Taís Araújo e outras. Além disso, ela é também referência para outras jovens negras que lhe acompanham nas redes sociais. “Já tenho consciência de que sou uma referência e tento não falsificar minha própria essência dentro das redes e de outros espaços”, conta.
ALÉM DO CABELO
“Eu não esqueço a sensação do vento batendo na minha cabeça quando eu saí da barbearia. É a sensação da minha vida. Nunca mais senti porque foi a primeira vez. Me senti em liberdade”, lembra ao raspar a cabeça.
Embora sempre tenha encontrado espaço para afirmação da identidade, como a maioria das adolescentes negras, Loo passou pelos processos impostos pelo padrão de beleza branco. Aos 15 anos, pediu ao pai para ter cabelo liso ao invés de festa. Ela conta que em pouco tempo o cabelo liso começou a virar uma problemática e demonstrar suas limitações. Foi questão de três meses para ela ir até a barbearia do tio na Boca do Rio e raspar totalmente o cabelo.
A estética assumida naquela época permanece até hoje e ela conta que no início não fazia ideia de como ia ficar, mas tinha uma grande referência em casa, que era a própria mãe.
Desde então, Loo Nascimento deixou o cabelo crescer naturalmente e foi assumindo o que gostava em cada momento. “O cabelo é onde você mais pode se divertir com o seu corpo”, conta ela lembrando a sensação de estar em transição capilar, se dando a oportunidade de ser várias pessoas ao mesmo tempo. Afinal, liberdade mesmo é poder escolher.
YOUTUBE
Recentemente, a influenciadora digital decidiu dar uma chance ao Youtube.
Ashley Malia é repórter-estagiária do Portal Correio Nagô
Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo