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“De cabeça erguida e bicão na diagonal”, Vilma Reis toma posse como Ouvidora Geral da DPE

Com a posse de Vilma Reis, Defensoria Pública do Estado da Bahia terá sequencia de três mulher negra à frente da Ouvidoria Geral

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Punho direito erguido, emblema da luta negra internacional imortalizada pelos Panteras Negras

 

“Nas noites em que pacientemente cosemos as redes da nossa milenar resitência. Para cada negro e negra que for, outros negros e negras virão para lutar com sangue ou não”. Trecho do texto interpretado pela atriz Vera Lopes que carrega o título: “A noite não adormece nos olhos das mulheres”, uma referência, com licença poética, ao poema homônimo da escritora mineira, Conceição Evaristo, publicado em uma das edições de Cadernos Negros, uma das mais importantes obras de resistência da literatura afro-brasileira. Texto que revela e ressalta a capacidade feminina de perpetuação da esperança e da luta. Esse clima de interpretação poética poderia acontecer em qualquer ponto de Salvador. Em um teatro da cidade, em um bar no Centro Histórico, ou em uma intervenção artística no meio de uma praça. Mas não. Esse momento abriu a cerimônia de posse, da socióloga, e agora, ouvidora geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia (DPE), Vilma Reis dos Santos.

Atriz Vera Lopes declama poema inspirado na escritora Conceição Evaristo

Atriz Vera Lopes declama poema inspirado na escritora Conceição Evaristo

Nem a chuva que caiu na capital baiana afugentou as pessoas que lotaram o auditório do Centro Cultural da Câmara dos Vereadores, na Praça Municipal, na tarde de quinta-feira, 23, para parabenizar a nova ouvidora do estado. Que entre amigos, admiradores e curiosos, celebrou a nomeção oficial do cargo, responsável pela  articulação de diálogos e ações entre a Defensoria e a sociedade civil. Um lugar para constitur respostas coletivas, diante de insuficiências institucionais que não respondem pelo sofrimento das Mães do Cabula, nem sobre as tensões que pairam o Quilombo Rios dos Macacos, e demais comunidades quilombolas do estado, definição do cenário atual feita pela voz firme da ouvidora, em seu discurso de posse.

“A nossa presença nas instituições altera as instituições. No estado onde 82% da população é negra, não temos um documento de enfrentamento ao racismo. Aqui onde o racismo mata na saúde, mata todos os dias, roubando a esperança das nossas crianças no ambiente escolar. Local onde a criaçao negra também é usurpada, transformada em espetáculo”, dasbafou Vilma, antes de agradecer e reverenciar nominalmente as pessoas, que representam o que chamou de “escolas de enfrentamento” presentes na cerimônia. Nomes como Sueli Carneiro, diretora do Geledés – Intituto da Mulher Negra,  Valdecir Nascimento, presidente do Instituto Odara,  o professor e economista, Hélio Santos, Vanda Sá Barreto, à frente do processo de construção do Ceafro, Luci Veredas, a primeira mulher a presidir a Fundação Cultural Palmares/MinC, entre muitos outros que assistiam Vilma Reis discursar.

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Referências

Também fazem parte da categoria de referência no enfrentamento ao racismo, a representante da Rede de Mulheres Negras, Lindinalva de Paula que, sentada à mesa plenária ao lado da ouvidora, revelou o significado da eleição de Vilma Reis. “Significa a força do Movimento Negro, que representa a sociedade no empoderamento e autonomia da mulher negra”, disse.

A ex-ministra de Politicas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, concordou que Vilma con
quistou um lugar legítimo, pois pessoas como Vilma possuem a capacidade de perceber em quais condições vivem outros setores da população que dividem a mesma condição que ela: ser negro. “A responsabilidade é construir um ponto de vista sobre todos os setores discriminados e oprimidos da sociedade brasileira. Isso é criar representatividade pela qual nós temos lutado o tempo todo”, advertiu a ex-ministra.

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Embora seja um longo percurso, os movimentos contra hegemônicos estão rompendo as estruturas dentro das instituições públicas. E três mulheres negras fazem parte desse porcesso de enfrentamento do racismo isntitucional vigente nesse país: Anhamona de Brito, Tania Palma e Vilma Reis, respectivamente, as últimas à frente do cargo de ouvidora geral da Bahia. E nas palavras de Tania Palma, há ainda muito o que percorrer. “Com todos os percausos políticos, nosso compromisso é maior do que isso. Queremos transformar a sociedade”, garantiu a ex-ouvidora em discurso de entrega do cargo para Vilma dos Santos Reis, que recebe a cadeira do órgão “De cabeça erguida e bicão na diagonal”, como dizia sua avó.

Texto: Fabiana Guia, repórter do Correio Nagô

Fotos: Assessoria de Imprensa da Defensoria Pública do Estado da Bahia

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