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#Demolição de casarões e segregação do centro urbano em debate

Gentrificação, exclusão produzida, cidade segregada e destruição criativa são algumas denominações utilizadas para explicar a relação entre Políticas Urbanas e Racismo em Salvador, a tônica da última edição do projeto “Cidade Que Queremos!”, realizado na segunda-feira (25), no auditório Milton Santos, no Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), Largo 2 de Julho. A ideia das plenárias é abrir o debate sobre a urbanização da cidade e “se posicionar contra a saída dos pretos e pobres que vivem no Centro Antigo de Salvador”. Organizado de forma “horizontal”, entre Coletivos como “Nosso Bairro é 2 de julho” e o “Desocupa”, o formato da iniciativa privilegia a participação democrática da população da cidade.

O debate contou com contribuições de acadêmicos, como o professor de Urbanismo da UNEB, Luiz Antônio de Souza, e de ativistas como a coordenadora executiva do Instituto da Mulher Negra ODARA, Valdecir Nascimento, e dos integrantes da Campanha Reaja ou será mortx, Hamilton Borges e Aline Santos, convidados a falar sobre a presença ostensiva da polícia nos bairros centrais. Durante as discussões, houve intervenções poéticas com o Grupo Ágape, célula itinerante do Sarau da Onça, que acontece no bairro de Sussuarana.

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Debate movimentou o CEAO / Fotos: Fabiana Guia

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Processos: “O projeto vai contra o formato de audiência e abre para o público dizer em que medida o racismo perpassa a urbanização em seus bairros. E com isso abre-se um precedente para falar também sobre o processo de gentrificação que está acontecendo aqui no Centro”, explica Viviane Hermida, uma das organizadoras do projeto. Viviane se refere ao processo de retirada das pessoas dos bairros centrais da cidade com o objetivo de restaurar e valorizar os imóveis para especulação imobiliária. Este receio se intensificou com as recentes demolições de cerca de 14 casarões, autorizadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), nas localidades da Ladeira da Montanha, da Conceição e Preguiça, após os acidentes ocorridos durante às fortes chuvas que caem em Salvador. Essas intervenções fazem parte das medidas emergenciais da prefeitura, executadas pela Secretaria Municipal de Urbanismo (SUCOM). Como explica Hermida: “É um regime de abandonar o local, aí ele degrada, pensam como revitalizar e tiram as pessoas do local”, conclui.

Essa última citação de Viviane revela um processo chamado de destruição criativa, que segundo o professor Luiz Antônio de Souza, é mecanismo capitalista que exige a destruição do imóvel para reconstrução posterior, uma analogia do economista austríaco Joseph Schumpeter. “Muitas vezes acontece de forma violenta. As pessoas são obrigadas a saírem de suas casas, um processo de degradação que começou antes das chuvas e essa é usada como uma oportunidade”, completa.

Ainda de acordo com o professor, a segregação do espaço urbano é um fenômeno socialmente divido. Dessa forma, a construção de uma nova cidade não pode ser delega às politicas públicas que só contribuem para essa divisão. Se faz necessária uma construção coletiva a partir da união entre a comunidade soteropolitana e de discussões como essa.

Da Redação do Correio Nagô
Foto destacada: Antonello Veneri / Fotos internas: Fabiana Guia

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