Alagoas, 17 de agosto de 2012. A presidente Dilma Rousseff tinha agenda marcada para estar na cidade de Marechal Deodoro, 32 km da capital alagoana, para a tão esperada inauguração da fábrica da Braskem na cidade. Os termômetros apontavam a máxima de 26°, mas o que estava quente mesmo, nessa sexta-feira era a indignação de centenas de trabalhadores e trabalhadoras do estado.
Organizados em um ato unificado dos trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade, centenas de pessoas seguiram para o local onde aconteceria a cerimônia de lançamento levando suas pautas de reivindicações. Em um leque que ia da pauta dos funcionários da educação superior, em defesa de melhores condições de trabalho, à denúncia da estagnação da Reforma Agrária pelos movimentos sociais do campo, era de se esperar que essa manhã daria muito pano para a manga. E deu!
A caminho de Marechal, os 11 ônibus que levavam os manifestantes foram impedidos pela Polícia Militar de Alagoas a prosseguir na rodovia que dá acesso ao pólo onde aconteceria a atividade, dessa maneira, 10 km antes do destino previsto o ato já tomou forma. Bloqueados de seguir o caminho com o ônibus, os manifestantes ocuparam a BR bloqueando a passagem dos outros veículos também. Segundo a nota de repúdio dos movimentos sociais do campo de Alagoas, “a interdição da rodovia, era simplesmente para garantir o acesso ao local e a entrega da pauta de reivindicação dos movimentos”.
Para desbloquear a pista, o Batalhão de Operações Especiais, Bope, interferiu de maneira truculenta na mobilização disparando balas de borracha e bombas de efeito moral na direção dos manifestantes, entre eles idosos, crianças e uma gestante.
10 km adiante, como se nada muito importante estivesse acontecendo para além da cerimônia de inauguração, Dilma avaliou que a expansão da Braskem no estado era resultado da política econômica do governo, tanto federal quanto estadual, e da iniciativa privada, ressaltando o investimento de grandes empresários nesse processo, e emplacando um discurso em defesa da educação pública, reforçou seu compromisso com o desempenho da educação no estado de Alagoas, estado esse que apresentou o pior Índice de Educação Básica, Ideb, e estampou a edição da última quinta-feira do Jornal Nacional, da Rede Globo, no quadro “JN no Ar”, que mostrou uma parcela do cenário da educação por aqui.
Uma manhã cheia de contradições, mas, sobretudo, uma manhã cheia de lições.
A população alagoana dificilmente irá esquecer o dia em que a presidenta voltou a visitar essas terras. E a própria presidenta, já deve ter concluído que por onde ela passar, lutadores e lutadoras do povo estarão nas ruas em defesa de seus direitos, independente de seu discurso bonitinho-repetitivo.
Confira abaixo, a nota de repúdio dos Movimentos Sociais do Campo sobre o ocorrido:
do site do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Os movimentos sociais do campo em defesa da Reforma Agrária do estado de Alagoas vem a público lamentar e repudiar a ação violenta do Estado brasileiro através da ação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), que atirou contra os trabalhadores e trabalhadoras na manhã desta sexta-feira (17) de agosto, no trevo de acesso ao pólo industrial de Marechal Deodoro.
A ida dos trabalhadores tinha como objetivo denunciar a paralisação da Reforma Agrária, o baixo orçamento investido nas políticas agrárias e o sucateamento dos órgãos responsáveis por sua realização, que prejudicam 10 mil famílias acampadas e as 15 mil assentadas no estado.
Dos esclarecimentos:
– No dia 16 de agosto, atendendo solicitação da presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Amélia Fernandes, as coordenações dos movimentos do campo se reuniram com os assessores da presidência da república, entre eles José Claudenor Vermohlen (Zeca), para discutir à respeito da participação durante a visita da presidenta Dilma para a inauguração da fábrica da Brasken, em Marechal Deodoro;
– Fomos informados que os manifestantes ficariam à 300m de distância da presidenta e de seus convidados;
– Chegando ao trevo que dá acesso ao pólo, cerca de 10 km de distância do local do evento, fomos abordados pela Polícia Militar de Alagoas, que impediu o acesso ao local definido pela assessoria da presidência;
– Entrando em contato com o assessor da presidência, José Claudenor Vermohlen, informamos que fomos impedidos de chegar ao local pelo aparato policial, e o mesmo nos informou que a ordem do bloqueio partiu do Governo do Estado de Alagoas. Em contato telefônico com secretário do gabinete civil, Álvaro Machado, alegou-se que a ordem de não permitir o acesso veio da Presidência da República;
– A interdição da rodovia, era simplesmente para garantir o acesso ao local e a entrega da pauta de reivindicação dos movimentos do campo;
– Ainda em processo de negociação, chega o Bope disparando balas de borrachas e bombas de efeito moral, numa verdadeira ação de guerra contra cerca de 250 trabalhadores, incluindo crianças, idosos e uma gestante.
Não havendo respostas para a paralisação da Reforma Agrária, o governo Dilma continua dando sequência a sua política de negligência e descaso com as reivindicações dos movimentos sociais, abrindo mão do diálogo e adotando práticas e medidas violentas para com os trabalhadores e trabalhadoras do campo.
CPT, MLST, MST, MTL
17 de agosto de 2012
por Gustavo Marinho, correspondente do Correio Nagô em Alagoas
fotos de Sandra Sena