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Disputas epistemológicas marcam a presença do negro na produção científica

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Ignorando a constante chuva que caiu na capital baiana, na última sexta-feira (15), especialistas e convidados encheram o auditório Milton Santos, no Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, (CEAO), para o lançamento do livro “Africanidades e relações raciais: insumos para políticas públicas na área do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas”. A obra é uma compilação de 37 narrativas, produzidas por 48 escritores, 90% negros, com o desafio de enfrentar o racismo institucional reivindicando a contribuição dos afro brasileiros ao Plano Nacional de Livro e Leitura (PNLL).

A mesa de conversas, mediada pelo professor Hélio Santos, contou com a presença dos pesquisadores Eduardo Oliveira, Analu Souza e Lívia Natalia, que assinam contribuições ao livro. Essas narrativas sistematizam novas formas de ensinar e aprender, com um olhar para dez anos adiante, através de políticas que poderão ser utilizadas nas esferas estaduais e municipais.

“Entre os textos, conceitos como favela, africanidades, letramentos de resistência, racismo institucional e literatura periférica costuram o livro direta e indiretamente. Entender e dominar o espaço de poder que essas palavras representam é uma maneira de construir um canal, de dentro da favela, ligando manifestações tradicionais de origem africana ao ensino”, explica Cidinha da Silva, organizadora do livro, escritora e doutoranda em Difusão do Conhecimento pela UFBA.

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Pesquisa – Em conversa com o Portal Correio Nagô, os pesquisadores presentes repercutiram sobre a pesquisa ‘Ciência, Tecnologia e Inovação Africana e Afrodescendente’, do professor de História, Carlos Machado, divulgada no dia 14 de maio, que evidencia entraves no acesso à produção científica dos negros no Brasil. “Eu sempre digo que a gente precisa brigar com a baleia de dentro da barriga da baleia. A divulgação do conhecimento é uma disputa epistemológica”, opina Cidinha. Ela aponta também a dificuldade com a tradução dos trabalhos de pesquisadores negros fora do Brasil.

Para a professora Adjunta do Departamento de Letras Vernáculas da UFBA, Analu Souza, entre diversos fatores, existe a questão do processo de seleção para a pós-graduação que é altamente eliminatório. “Nós ainda somos minorias nos espaços de ensino superior. E passamos por um processo de negociação dentro da universidade. E a falta de compreensão da nossa bibliografia dificulta a politica de indicação para os trabalhos”, aponta.

Segundo o escritor e coordenador do Programa de Doutorado em Difusão do Conhecimento da UFBA, Eduardo Oliveira, existe uma elite que teme o legado ancestral deixado pelos pesquisadores negros, o que desencadeia a tentativa de apagamento desse saber. “Existem mecanismos sociais e subjetivos para o acesso à bibliografia negra no Brasil. O social já conhecemos, como a negação do nosso protagonismo. E o subjetivo é o medo da nossa anterioridade em relação ao conhecimento. Possuímos uma ancestralidade com domínio da tecnologia, medicina, filosofia, física e religiosa há 30 mil anos”.

Para adquirir a obra organizada por Cidinha da Silva basta entrar no portal da Fundação Cultural Palmares/MinC. Acesse: http://www.palmares.gov.br/

Da Redação do Correio Nagô

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