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Djamila: “A mulher negra tem outras definições de feminino”

A filósofa e acadêmica, Djamila Ribeiro, esteve na abertura do II Ciclo Formativo Opará Saberes falando sobre “O Pensamento de Simone de Beauvoir sob o olhar de uma filósofa negra”, com mediação de Larissa Nascimento. O evento, trabalha, principalmente, com a questão do ingresso de pessoas negras, em especial as mulheres, nos Programas de Mestrado e Doutorado.

Conferencia de Djamila Ribeiro UFBA – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo foto: © Edson Ruiz / SPM-Ba

Na terça-feira (24), foi possível ver o auditório da Faculdade de Arquitetura da UFBA lotado de mulheres negras. “Muito bom ver a faculdade enegrecida”, ressalta a  idealizadora Carla Akotirene. Ela ainda comenta o sentimento de solidão das poucas mulheres negras que estão nesses espaços acadêmicos enquanto pesquisadoras e convida a juventude negra a pensar estratégias de inserção das pessoas negras aos programas de mestrado e doutorado. “A gente não se acha superior por estar nesta estrutura, a gente veio para derrubá-la”, finaliza.

Djamila Ribeiro iniciou a sua participação falando sobre a sua pesquisa acadêmica, onde ela estuda o pensamento da filósofa e uma das principais influências do movimento feminista, Simone de Beauvoir. Inclusive, faz duras críticas à intelectual por universalizar a mulher, não pensando na mulher negra. “A mulher negra tem outras definições de feminino”, comenta.

Negritude e academia

Djamila ainda contou um pouco sobre as dificuldades de ser uma mulher negra e acadêmica, principalmente pelo fato de o curso de filosofia conter uma biografia totalmente branca e masculina. Durante sua graduação na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) não estudou nenhuma mulher negra e ainda, durante a sua pesquisa sobre Beauvoir, o obstáculo de ser orientada por um professor que nem sequer tinha lido a autora. Ela ainda teve que pensar em estratégias para conseguir trabalhar questões negras. “Minha mãe me ensinou: ‘cede aqui para resistir depois’”, diz.

Autoras negras

Foi questionado também o motivo de haver maiores dificuldades das editoras em traduzir materiais produzidos por autoras negras. “Apesar de Simone de Beauvoir não ser estudada na academia, tem vários livros traduzidos. O que é uma dificuldade para autoras negras”, pontua Djamila.

Conferencia de Djamila Ribeiro UFBA – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo foto: © Edson Ruiz / SPM-Ba

Durante a sua participação no Opará Saberes, Djamila Ribeiro cita diversas autoras negras que são referência em seus trabalhos, como Lélia Gonzalez, Conceição Evaristo e Angela Davis. Falou também sobre a vergonha e violência da ausência de professores negros na UFBA e da dificuldade de acesso a materiais produzidos por pessoas negras.

Feminismos Plurais

Djamila aproveitou para falar também sobre a coleção Feminismos Plurais, da parceria com a editora Letramento e o Portal Justificando, onde tem o objetivo de trazer livros populares que discutem questões de gênero em um modelo tipo Coleção Primeiros Passos. O primeiro título se chama “O que é lugar de fala?”, escrito por Djamila Ribeiro que, inclusive, estava à venda no dia do evento. Além disso, a coleção conta com a participação de Carla Akotirene, com o título ainda a ser lançado, “O que é interseccionalidade”. O projeto tem como objetivo trazer esses materiais de forma mais acessível, com embasamento e de forma democrática.

Conferencia de Djamila Ribeiro
UFBA – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
foto: © Edson Ruiz / SPM-Ba

OPARÁ SABERES

O evento é aberto ao público com inscrições no local, segue até 09 de novembro, e contribuirá para que outras pessoas, assim como as vinte aprovadas após a primeira edição do Opará Saberes, possam encarar o desafio e permanecer nessa luta política contra a invisibilidade negra.

Ashley Malia é repórter do Portal Correio Nagô.

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