Como disse Márcio Meirelles, “é preciso ter coragem para ter na pele a cor da noite”. Nascer negro ou negra no Brasil é no mínimo desafiador. Não só por ser um país racista, já que isso estamos cansados de saber, mas porque o modelo “à brasileira” se reinventa e se aprimora, mantendo-se mais e mais vivo em nossa sociedade a cada dia.
Se antes o preconceito vinha estampado nos classificados dos jornais, como um “inofensivo” anúncio de emprego que apenas pedia: “ter boa aparência”, no qual “letrado” ou um mero alfabetizado entendia a mensagem oculta nessas palavras: ser branco/branca e a depender da vaga, ter cabelo alisado, no caso das mulheres negras, ou cabelo “bem cortado”, no caso dos homens negros.
Hoje, por termos muitos apresentadores negros e negras na TV brasileira, a exemplo da Maju Coutinho, apresentadora do Jornal Hoje – um dos mas importantes telejornais da TV Globo, com seu cabelo natural, acredita-se que a sociedade brasileira “naturalizou” os nossos corpos e os nossos cabelos. Ledo engano!!! Estamos muito longe dessa realidade, já que quando o racismo não acha uma oportunidade, ele cria!!!
O Big Brother Brasil 2021 está aí para mostrar as novas faces do racismo. Nesta edição ele aparece na sua versão lúdica, “foi apenas uma brincadeira!”. E como sempre, o racista nunca quer ofender ninguém. Mas, o cantor sertanejo, Rodolffo, ofendeu o professor de Geografia, João Luiz, que não se calou diante do racismo. Expôs o que sentiu em rede nacional, e mostrou ao Brasil o quanto o racismo é destrutivo. O sertanejo comparou o cabelo Black do professor a uma peruca de uma fantasia que usou do homem das cavernas.
É preciso ter coragem para não calar diante do racismo “à brasileira”, que se reinventa dia após dia, para nos silenciar. O Professor se posicionou, expôs seus sentimentos diante do ocorrido, além de exigir respeito por parte do sertanejo, que mais uma vez demonstrou falta de conhecimento sobre as questões raciais, para justificar o ato.
O desconhecimento não justifica o racismo, a homofobia ou o machismo, até porque as informações estão à disposição de todos, e a internet é uma importante ferramenta, basta acessar.
E a vítima não deve se ver obrigada a orientar o agressor, racista ou homofóbico a como agir ou se comportar, já que cabe a todos ter a tão conhecida empatia, e praticar com os outros só o que gostaríamos que nos fosse feito.
A sociedade brasileira mantém a sua visão preconceituosa, que se mostra a todo tempo, e sobre todas as nossas características, nosso cabelo, nossa forma de vestir, na nossa religiosidade de matriz africana, e muito mais.
O cabelo crespo então, tem seu destaque como o principal marcador do racismo no Brasil. Já fomos “Nega Maluca”, já tivemos “cabelo de Bombril, já cantaram “Nega do cabelo duro, que não gosta de pentear”, e agora nos comparam com os homens das cavernas?!?!
Em 2021, ainda não somos respeitados e ainda precisamos ensinar aos agressores qual deve ser sua postura e sua compostura diante do óbvio, acessível e razoável?!?!?!
Valéria Lima – Jornalista, Mestre em Estudos Étnicos e Africanos