Home » Politica » Editorial: Eleições 2014 e o bonde da História

Editorial: Eleições 2014 e o bonde da História

Quando pensamos que avançamos em torno da presença no debate racial, vem um fato e atesta o quanto ainda estamos atrasados. A disputa pelo comando de Salvador, em 2012, foi pautada em torno da presença de negras e negros em todas as chapas. Uma campanha para prefeito histórica, a negritude coloriu as principais candidaturas, a discussão sobre promoção da igualdade, ações afirmativas deram o tom da disputa política. Parecia que tínhamos chegado a um novo patamar.

Tudo indicava que as reivindicações do Movimento Negro passariam a ser incorporada por candidatos e gestores. Um avanço para a Bahia, o estado com maior população negra e justamente por isso, para muitos mais do que já passou da hora de ter um gestor eleito de forma democrática que refletisse a cara do seu povo. Agora em 2014, um grande retrocesso, a tônica da diversidade não teve espaço. As três pré-candidaturas que mais pontuam nas pesquisas preferiram fugir do debate. E a possibilidade de uma chapa bicolor morreu no nascedouro.

Eduardo-e-Lídice

Foto: Lay Amorim/Brumado Notícias

O Partido Socialista Brasileiro – PSB foi o único que timidamente ousou a representar a diversidade quando o nome do vereador Sílvio Humberto, doutor em economia, estava sendo cotado como possível candidato a vice-governador da chapa encabeçada pela senadora Lídice da Mata.

Nas redes sociais, apenas o indicativo da presença de Sílvio Humberto, professor universitário, funcionário público e acima de tudo um dos principais idealistas das ações afirmativas no país, na disputa por um dos mais altos cargos, em frações de segundo estava entre os assuntos mais comentados.

Artistas, formadores de opinião, intelectuais não esconderam que apoiariam a “chapa da diversidade”, como passaram a chamar a dupla formada por Lídice e Sílvio. Pela primeira vez uma mulher e um negro disputariam o controle do Estado. Mas, seguir o rumo da mesmice, ir pelo mesmo caminho das outras chapas foi a escolha do PSB.

Durante a convenção municipal, realizada no dia 07. 06. 14, o prefeito de Brumado, Eduardo Vasconcelos foi escolhido para ser o vice da senadora. O recorte territorial falou mais alto que a negritude. A opção de ter alguém que supostamente pudesse ampliar o número de votos no interior falou mais alto. A trajetória de Sílvio Humberto, que ao longo de 21 anos vem colaborando com a inserção de mulheres e homens negros na universidade foi colocado de lado, e não levou em consideração a capilaridade das ações afirmativas.

O povo clama por um representante que tenha a sua cara, que exista um reconhecimento de identidade, mas os estrategistas de plantão preferem seguir pelos números, que nem foram ainda coletados. O que poderia ser a novidade, chamar a atenção do eleitor pelo ineditismo, algo que sairia da normatividade política, foi apenas mais uma utopia. Era esperado por parte do eleitorado, que o PSB se configurasse como uma alternativa para aqueles que desejam uma política progressista abrindo mais espaço para a questão racial do que as políticas do PT. Porém, em vez de, apresentar essa opção, o partido preferiu perder o bonde da história e seguir como um mero figurante das eleições.

 

scroll to top