Uma força tarefa de mulheres negras foi formada para pedir justiça contra os racistas que xingaram a jornalista Maíra Azevedo e a antropóloga Naira Gomes nas redes sociais. Munidas das advogadas Marli Mateus, Laina Crisóstemo, Gabriela Ramos e Aline Moreira, Maíra e Naira foram à 1ª Delegacia Territorial, no bairro dos Barris, Centro de Salvador. A jornalista foi vítima de racismo no canal que mantém no Youtube, com a sua personagem Tia Má, por meio de ofensas como “macaca”, “escrava do Bolsa Família” e “necrolóide beiçuda” em comentários de um dos vídeos. Já Naira foi agredida na sua página do Facebook, por um usuário que retrucou com a ofensa “negro quando não caga na entrada, caga na saída” após a antropóloga defender a sua posição sobre o preconceito racial.
“O racismo quando não mata na bala, mata desestruturando nosso psicológico”, disse Maíra em entrevista concedida ao Portal Correio Nagô. Na conversa, que contou com a participação da advogada Aline Moreira, foi detalhado o passo a passo do processo para denunciar um caso de racimos, neste caso, um crime cibernético. “Em Salvador não possui uma delegacia especializada em crimes como esse. Eles são denunciados nas delegacias próximas ao local onde a vítima mora, trabalha ou na 1ª circunscrição da cidade. Acabam competindo com outros crimes”, postulou Aline, que defende a necessidade de delegacias especializadas em casos do tipo.
A complexidade para fazer a denúncia
Maíra concorda com a advogada e acrescenta que “é desestimulante”, por não haver um procedimento que determina como todo processo deveria funcionar. Ela afirma somente continuar por militar em favor da igualdade de direitos. “Por ser do movimento negro, ter uma formação da luta, fez com que eu não desistisse. Eu fui [à delegacia] com quatro negras advogadas em um ambiente desfavorável. Dá para perceber que há um preconceito geracional, racial e de gênero”, contou Maíra, garantindo que não pode desistir. Ela possui cerca de 80 mil seguidores nas redes sociais de Tia Má e se nega a recuar. “As pessoas precisam entender que eles podem ser assim na casa deles, com portas fechadas. Mas que não vá para a rua ofender ninguém”, destacou.
Aline marca que é complexo fazer a denúncia e que o sistema age dessa forma para desencorajar. Mas que é preciso denunciar. “Mesmo com toda a burocracia e os obstáculos, tem que persistir. Porque isso não é só sobre você, é sobre mim também, é sobre minha avó, que já morreu, minha sobrinha que vai nascer … toda uma coletividade”, encoraja a advogada.
Ata Notorial
Durante a conversa, Aline explicou um procedimento importante para seguir nesses casos. “A vítima deve registrar em cartório uma Ata Notorial, na qual o profissional do cartório entra na página da rede denunciada e constata que aquilo foi dito, está escrito, e registra para que não haja a negação da injúria ou do xingamento”, alerta a advogada, ao afirmar que apenas fazer ‘print’ da conversa ou postagem não funciona como prova. Para registrar a Ata Notorial também é necessário o pagamento da taxa de R$ 280,00 (duzentos e oitenta reais). “É uma valor considerável, então a gente perde um pouco o estímulo, nem todo mundo consegue tirar esse valor do orçamento mensal. Tudo é feito, organizado, orquestrado, para que a pessoa desista. Eu não posso desistir”, concluiu Maíra.
Texto Fabiana Guia, da Redação do Correio Nagô
Confira o vídeo no qual a Tia Má aborda a maratona para denunciar o racismo sofrido