30/09/2018 | às 12h50
O Centro de Salvador ficou pequeno para a multidão que ocupou as ruas de Salvador no movimento organizado por mulheres contra o presidencial Jair Bolsonaro (PSL), candidato de extrema direita. Mais de 90 cidades brasileiras aderiram ao protesto em todo o Brasil, neste sábado (29).
Sob a consigna #EleNão, que já é uma mobilização massiva nas redes sociais, o ato na capital baiana começou às 14h, com uma caminhada conduzida pela cantora Daniela Mercury e a Banda Didá. O cortejo seguiu em direção à Praça da Sé, mas retornou ao Campo Grande, de onde seguiu para o Farol da Barra, com a participação de outros artistas como as cantoras Maria Gadu e Tathi.
Durante o trajeto, manifestantes responderam às discussões públicas machistas de Jair Bolsonaro sobre as mulheres, a exemplo da declaração feita no ano passado, quando o candidato disse ter dado uma “fraquejada” ao ter uma filha mulher. Bolsonaro afirmou, em entrevista à apresentadora Luciana Gimenez, na RedeTV!, em 2016, que não empregaria mulher com mesmo salário de homem. Réu em duas ações penais no STF por injúria e incitação ao crime de estupro, Bolsonaro responde pelo discurso na tribuna da Câmara dos Deputados em dezembro de 2014, quando ele disse que não estupraria a deputada Maria do Rosário (PT-RS) porque ela “não merece” e não faz o “tipo” dele.
PRIMAVERA FEMINISTA
Para a professora universitária, Amélia Maraux os atos em quase 100 cidades neste sábado (29) marcam a primavera feminista. “Isso representa que nós mulheres estamos fazendo a primavera feminista. Nós vamos virar o jogo. Ele não vai ser eleito, essa é a demostração de que nós podemos mudar, podemos acabar com o fascismo. Ele não porque ele é fascista, racista, sexista, homofóbico, ele não tem projeto para o país. Ele tem um projeto de ódio contra aqueles que são diferentes dele. Ele não porque é contra a tudo que a gente lutou durante todo esse tempo, desde quando a gente conseguiu acabar com a Ditadura, que fizemos a Constituição de 1988, que fizemos as ações afirmativas, que muitos negros e negras ingressaram na Universidade, que LGTBs tiveram visibilidade, portanto estamos em uma outra era”, diz Maraux.
“Eu estou aqui porque é muito importante enquanto cidadã, mas principalmente como mulher negra, me posicionar contra esse movimento conservador que está querendo dominar o país. O inominável significa hoje um retrocesso para o Brasil. No momento em que a gente vem com muitas conquistas, a gente não pode permitir que ele ocupe o poder”, explica a assistente social Andrea Lira.
RACISMO
O candidato, que é líder nas pesquisas de intenção de voto, já fez declarações racistas, tendo recentemente rejeitada pelo Supremo Tribunal Federal a denúncia feita pela Procuradoria Geral da República (PGR), em abril deste ano em razão de falas racistas numa palestra que fez em 2017, no Clube Hebraica do Rio de janeiro. Na ocasião, Bolsonaro disse que, se eleito presidente, não vai ter “um centímetro demarcado” para reservas indígenas ou quilombolas. Disse mais: “Onde tem uma terra indígena, tem uma riqueza embaixo dela. Temos que mudar isso daí. […] Eu fui num quilombo, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada! Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gastado com eles”.
Em 2011, o candidato, em entrevista ao programa “CQC”, da TV Bandeirantes, afirmou que não discutiria “promiscuidade” ao ser questionado pela cantora Preta Gil, sobre como reagiria caso o filho namorasse uma mulher negra. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso arquivou, em 2015, o inquérito aberto em 2013 contra Jair Bolsonaro.
Donminique Azevedo é repórter e editora do Portal Correio Nagô.