Maria Stella de Azevedo Santos, conhecida por Mãe Stella de Oxóssi, recebe homenagem do Museu Nacional de Enfermagem Anna Nery (Munean), que fica localizado em Salvador, no Pelourinho, com exposição de longa duração. A curadoria é resultado de um trabalho que tem como objetivo mostrar a contribuição dos negros para o desenvolvimento da Enfermagem, a partir do período colonial até os dias atuais. Pontuando o papel das escravizadas e das mulheres negras que executavam e ainda executam atividades de enfermeira, a diretora do Museu, Júlia Lemos, ressalta a importância e colaboração da quinta yalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá para a área da saúde. “Não há como falar de Enfermagem sem falar de Mãe Stella, pois muitas pessoas não sabem que ela foi enfermeira”, destaca. O terreiro de Mãe Stella fica sediado no bairro São Gonçalo do Retiro, região do Cabula.
No Munean, histórias de personagens afrodescendentes pertencentes ao mundo da Enfermagem são contadas. As mães de ama, mães de leite, e mulheres pretas que participaram de guerras ou conflitos, como Maria Soldado, enfermeira da Legião Negra, comissão que arrecadava bens para a comunidade negra paulista, são representadas na exposição. “A memória das mulheres negras do Brasil, cuidadoras de crianças, parteiras, nutrizes, chamadas de mães de criação, resistiram aos imperativos da escrita oficial da história da enfermagem”, escreve o pesquisador Paulo Campos, pós-doutor pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP). “A exposição é importante para manter viva a nossa condição histórica, resgatando a nossa história e reconhecendo a contribuição afro”, menciona o enfermeiro e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Itamar Lages.
Segundo a pesquisa da Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz, na região Nordeste, 6,6% dos profissionais de Enfermagem se identificam como pretos. Integrante do Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA), Aline Soares destaca a colaboração da população afrodescendente para o desenvolvimento da Enfermagem e pontua a discriminação que os negros têm de enfrentar no mercado de trabalho. Ela comenta que as “mãos da Enfermagem brasileira são negras”. Aline Soares ressalta que os técnicos de enfermagem baianos, que, na, maioria, são negros, são fundamentais para o trabalho desenvolvido na área. “Infelizmente, nas universidades de Enfermagem, não há muitos negros. Ainda há muito preconceito quando negros assumem cargos de poder. As pessoas acham que o cargo foi dado e não conquistado”, ressalta a enfermeira.
Lúcia Ferreira, umas das enfermeiras que foi homenageada pelo Munean, abordou o preconceito que os negros sofrem na profissão e no cotidiano. “As pessoas não sabem da sobrecarga que é ser chamada de ‘neguinha’. Eu fui a única negra no meu curso de graduação. É preciso que a Enfermagem se reconheça negra, porque nós [brasileiros], somos negros”, disse, com lágrimas nos olhos, ontem, na abertura da exposição. A doutora Valmira dos Santos, primeira negra doutora a lecionar na Universidade Federal da Bahia (UFBA), contou sobre a dificuldade, por ser afrodescendente, que enfrentou na instituição de ensino superior. “Não foi fácil, mas, eu tenho a estrutura resiliente, que faz com que eu aguente certas situações. É assim que eu venho vivendo com muito orgulho e força”, destaca.
Da Redação do Correio Nagô