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“Entre a direita e a esquerda, nós somos mulheres negras”

Ô abre alas que as mulheres vão passar, com essa Marcha muita coisa vai mudar, nosso lugar não é no fogo ou no fogão, a nossa chama é o fogo da revolução. – Hino da Marcha Pela Vida das Mulheres Negras.

Antes mesmo das 9h algumas mulheres negras já se organizavam para a saída da Marcha Pela Vida das Mulheres Negras, as mesmas se concentraram na praça em frente ao Shopping da Bahia, região do Iguatemi.

No 25 de julho, dia da mulher afro-latina-americana e caribenha, nada impediu a marcha de caminhar. Uma das lideranças da iniciativa, Lindinalva de Paula, ressalta que o movimento aproveita o Julho das Pretas para colocar todas as pautas que matam mulheres negras, como a violência doméstica, física, dentre outras mortes, em especial, quando enterram os filhos.  

“A região do Iguatemi foi escolhida para sediar a manifestação “porque ultimamente tem sido o centro nervoso das discussões sobre reformas trabalhistas, as quais afetam diretamente as mulheres negras, já que estão na base da pirâmide social. Existe uma unidade de mulheres negras, temos aqui diversos segmentos, pois como diz a frase de Sueli Carneiro, entre a direita e a esquerda nós somos mulheres negras, a gente desconstrói esse discurso de que as mulheres negras não se unem””, observa Lindinalva.

Coletivos e instituições estavam representados na marcha, dentre eles, o coletivo Identidades Negras, Revista Quilombo, UNEGRO, as Mulheres do Alto das Pombas, a Secretaria de Política para Mulheres, o Instituto Mídia Étnica, a Rede de Mulheres Negras, Coletivo Abayomi, Coletivo Luiza Bairros, Enegrecer e Levante Popular da Juventude.

MEU CORPO, MINHAS REGRAS

“Legaliza o aborto, pelo direito ao nosso corpo” – versos cantados

Ainda na concentração, as mulheres pretas do Levante Popular, começaram a agitar os tambores, e as mulheres ao redor ecoavam os versos que clamavam liberdade ao corpo, direito à vida e combate à violência física e psicológica.

“Se tem violência contra a mulher não é o mundo que a gente quer, na violência contra a mulher a gente mete a colher” – versos cantados

Joyce Marques, integrante do Levante Popular da Juventude, considerou a importância de estar ocupando o espaço, visto que, o levante também é constituído por mulheres negras que sofrem diariamente com as práticas machistas e racistas.

AS ÁGUAS ABREM OS CAMINHOS

Para a integrante do Fórum Nacional de Mulheres Negras, Ubiraci Matildes, a chuva que caia representou agradecimento à sua mãe Oxum, o que significava “que ela estava no ato também”.

Em bloco, a Marcha ocupou uma das faixas de frente ao Iguatemi, momento em que um pequeno grupo de manifestantes pró-intervenção militar tentou intimidar o movimento. Com banners escrito “Queremos Intervenção Militar”, o grupo entrou em desentendimento com as mulheres que comandavam a Marcha. Segundo uma das manifestantes pró intervenção, aquele encontro foi uma coincidência e disse ainda que a época da ditadura foi a melhor do Brasil e que as pessoas contrárias não sabiam de nada.

“Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da polícia militar” – versos cantados

“A filha da empregada tomou conta da univerdade e vai ensinar pra vocês que o que vocês estão fazendo corrobora com o racismo, porque o fascismo sempre utilizou de teorias eugenistas para matar, violentar, estuprar e usurpar as populações negras, isso não é opinião minha, isso é história”, desabafou em tom de protesto a professora de história e integrante da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas Anne Rodrigues.

E foi debaixo de chuva e sol que a Marcha seguiu na Avenida ACM sentido Itaigara, engarrafando o trânsito, mas dando voz às mulheres de luta que ali estavam e ao cantos de protesto.

A secretária de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do governo da Bahia, Olívia Santana, avalia a Marcha como movimento de extrema importância, porque “o racismo não dá trégua e ver a juventude como protagonista é bom demais”, e completou “as mulheres negras são as que mais morrem vítimas de feminicídio, a pobreza, a cara de miséria é negra e é feminina, portanto temos mais de mil razões para estarmos nas ruas”.

Joyce Melo é repórter do Portal Correio Nagô.
FOTOS: Revista Quilombo

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