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Entre a era da desinformação e a estratégica cobertura de resistência

05/04/2018 | às 16h15

Por Donminique Azevedo*

Década de 60. Estados Unidos da América. Segregação. Discriminação contra a população negra. Acirramento das relações raciais. Massacre de Orangeburg. Assassinato de Martin Luther King.

Que tipo de história estaria sendo contada agora sem a existência de mídias independentes?

A Jet, por exemplo, foi uma das pioneiras na cobertura dos movimentos pelos direitos civis dos negros na década de 1960, nos EUA.

50 anos depois essas histórias chegaram ao Newseum (o Museu da Notícia), por meio da exposição “1968: Civil Rights at 50”.

Durante passagem por Washington DC tive a oportunidade de visitar a galeria que retrata o turbulento ano de 1968. A experiência foi impactante. Fez-me lembrar que vale a pena continuar fazendo disputa de narrativas que promovam a justiça social, principalmente por viver na chamada “era da desinformação”, na qual boatos e falsas informações ganham escala rapidamente, provocando estragos de toda ordem.

Durante o tour de estudos no Tio Sam, por todas as redações que passei, notei uma grande preocupação com o combate à desinformação. Dos jornais tradicionais às mídias que praticam jornalismo sem fins de lucro, todos, sem exceção, estão buscando formas de fortalecer a confiança no jornalismo e ferramentas para potencializar habilidades em verificação e checagem.

A experiência atenuou preocupações de outrora sobre a necessidade de nós jornalistas negros nos apropriarmos desse debate: Verificamos e checamos conteúdos que promovem o discurso de ódio? Como estamos combatendo a desinformação que impacta em políticas públicas para a justiça social?

São tempos difíceis no mundo. Direitos humanos são violados sem nenhum pudor e responsabilização. O Brasil segue polarizado. Porém, entre a esquerda e a direita – como muito bem nos lembrou a fantástica Sueli Carneiro – permanecemos negros. Além disso, já faz um tempo que decidimos escrever a nossa própria história.

Revistas, como Jet e Ebony, não só ajudaram a recontar o movimento estadunidense pelos direitos civis, como também representam formas de resistir por meio de coberturas jornalísticas.

Por aqui, não foi e nem é diferente. Em 1798 já circulavam em Salvador manifestos e boletins no contexto da Revolta dos Búzios, como salienta a jornalista negra Ana Flávia Magalhães Pinto, com base em registros históricos. De lá para cá, germinaram e floresceram diversos veículos.

Há quem diga que os tempos são outros. Até são, mas a pauta principal permanece a mesma: combater a desumanização da população negra. E o jornalismo é um importante meio para as contra narrativas.

Ainda que timidamente entre os jornalistas brasileiros, a cultura de colaboração vem ganhando força. Com isso, as estratégias de resistência podem ser potencializadas. Um mundo de possibilidades nos espera.

Compartilho aqui uma pequeníssima parte desse mundo, a partir das experiências e vivências em Washington DC, Austin (Texas) e San Francisco (Califórnia), durante Programa “U.S. Study Tour for Brazilian Journalists: Press Freedom and Innovation in Journalism.

Ferramentas gratuitas que podem gerar oportunidades:

http://tools.ijnet.org/

Vale destacar o Push”, um aplicativo móvel Android e iOS de código aberto para agências de notícias e publicações que não têm tempo, dinheiro ou recursos para criar seu próprio aplicativo de notícias personalizado.

Para quem deseja saber sobre as inovações no Jornalismo da América Latina,

vale a pena ler este e-book: https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/ebook/jornalismo-inovador-na-america-latina-pt-br

Curso massivo sobre confiança e verificação na era da desinformação: https://knightcenter.utexas.edu/pt-br/00-19394-confianca-e-verificacao-na-era-da-desinformacao-inscreva-se-agora-no-novo-curso-online-em-i

Alguns links úteis para o jornalismo de dados:

https://infogram.com/

https://www.datawrapper.de/

Oportunidades para jornalistas: https://ijnet.org/opportunities

Por onde andei (breve roteiro):

ICFJ

USA Today

Wilson Center (Encontro com Paulo Sotero, Director do Brazil Institute)

Foreign Press Center

National Public Radio (NPR)

Vox

Press Freedom and Access to Information

Freedom of Information Foundation of Texas

Austin American-Statesman

Texas Tribune

Encontro com Allison McCann, Data Reporter at VICE News

Capital Factory

Encontro com Bill Adair, Knight Professor of Journalism and Public Policy at Duke University

Encontro com Amy Vernon– social media consultant for daily newspapers

SXSW

Knight Center for Journalism in the Americas (Encontro com Rosental Calmon Alves)

City of Austin’s Open Data

Matter

AJ+

Mother Jones

Encontro com representante do Facebook

San Francisco Chronicle

Google (Encontro com Richard Gingras, Senior Director of News and Social)

University of California, Berkeley Graduate School of Journalism

Center for Investigative Reporting (CIR)

Stanford University

Encontro com Karen Wickre, KVOX Media

Linkedin

JSK (John S. Knight Journalism Fellowships at Stanford)

 

Treinamento para:

Data visualization com Jacopo Ottaviani (ICFJ Knight Fellow)

Data Mining training com Jeff South

Safety training for journalists com Frank Smyth

Visita à exposição “1968: Civil Rights at 50”. FOTO: acervo pessoal

Donminique Azevedo é graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Faculdade Social (2011) e pós-graduanda em Gênero, Raça e Sexualidades pela Universidade do Estado da Bahia. Busca unir as duas áreas de formação para pautar o tema da diversidade. Como editora e repórter do Portal Correio Nagô, integrando o Instituto de Mídia Étnica, aborda a temática afro a fim de promover a justiça social, por meio do trabalho jornalístico.

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