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ESPECIAL COLÔMBIA: O que querem as mulheres afrodescendentes da Diáspora Afro Latina?

22/12/2017  | às 20h

Por Donminique Azevedo 

Sim, existem mulheres afrodescendentes em todos os países da América Latina. A informação é pouco conhecida na Diáspora Afro Latina, fruto da violência colonial, como bem pontua a pesquisadora e ativista social brasileira Sueli Carneiro.

A convite da Corporación Amigos de la Unesco, o Portal Correio Nagô participou do Tercer Coloquio Internacional Afrodescendiente, na Colômbia, entre 27 e 30 de novembro.

Na ocasião, encontrei mulheres negras de toda a América Latina. Entre as mulheres existe um sentimento em comum: é urgente superar as desigualdades geradas pela histórica hegemonia masculina branca europeia.

Isto exige superar as ideologias que complementam tal sistema de opressão. Exige sororidade na luta. 

Para Josanira Luz,  afrobrasileira do Maranhão, é imprescindível repensar o processo de constituição das políticas públicas para as mulheres afrodescendentes. “É preciso se atentar à gestão com igualdade e equidade, bem como na participação”. FOTO: Donminique Azevedo – Tercer Coloquio Internacional Afrodescendiente

Para a secretaria municipal de Equidade de Gênero de Cali (Colômbia) Ana Carolina Quijano, é imprescindível que a pauta das mulheres negras tem o apoio de todas e todos. “Os direitos humanos das mulheres precisam de um olhar sistêmico de toda a população”, considera Quijano.

Mas como é possível lutar juntas frente aos desafios pós-coloniais em uma América fragmentada?

Apenas para fins  de exemplificação desse grande desafio, trago a experiência de passar uma semana em terras colombianas dialogando com homens e mulheres negras e brancas no contexto da Diáspora Afro Latina e Caribenha.

Apesar dos avanços – a exemplo do aumento do número de países com políticas nacionais de proteção às mulheres – é no cotidiano que se observa o impacto da ausência de equidade racial e de gênero. Permanece a imposição da pirâmide: Homens brancos, mulheres brancas, homens negros e mulheres negras – nesta ordem de poder e subalternidade.

Misoginia, racismo e falta de empatia demonstram como os desafios são ainda maiores para consolidar as agendas da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero na Diáspora.

Durante o Tercero Coloquio Afrodescendente, em Cali, por meio de uma série de relatos, tornou-se evidente  que são semelhantes as condições das mulheres afro latinas e caribenhas, guardadas as especificidades de cada país. São desafios que passam por articulações e estratégias políticas e sociais atentas à interseccionalidade.

POR UMA POLÍTICA INTERSECCIONAL

Afro latinas e caribenhas vêm desenhando novos contornos para a ação política feminista e antirracista. Os movimentos de mulheres negras trazem à cena política soluções local e global que consideram as variáveis: raça, classe e gênero. Soluções que passam, necessariamente, por conquistas de direitos, existência de recursos materiais e acesso aos serviços públicos de qualidade.

“Nós, mulheres afrodescendentes estamos em uma luta por nos posicionarmos como mulheres negras que buscam reconhecimento de nosso papel na sociedade. Buscamos equidade, igualdade de oportunidades, uma realidade digna, pois sem igualdade não há equidade”, pondera Maria Elcina Valencia, educadora e poeta da região de Buenaventura, na Colômbia.

Dados mostram que continuamos vivendo sob a ótica de uma cidadania limitada, sendo as principais vítimas das desigualdades sociais e das violências. De acordo com relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e ONU Mulheres, lançado em novembro deste ano, pesquisas regionais indicam que 24 dos 33 países da região latino-americana e Caribe (73%) tem leis exclusivas que protegem somente os direitos das vítimas / sobreviventes contra o exercício da violência doméstica e / ou violência intrafamiliar.

Mesmo com a existência de legislações exclusivas de proteção, o número de feminicídios está aumentando, e dois em cada cinco são resultado da violência doméstica. Dos 25 países com os maiores índices de feminicídio do mundo, 15 ficam na América Latina e no Caribe.

Diversas pesquisas indicam também que discrepâncias sociais ligadas às relações gendradas e racistas. No Brasil, por exemplo, mulheres brancas recebem 70% a mais do que negras, segundo a pesquisa Mulheres e Trabalho, do IPEA, publicada em 2016.

A atenção integral à saúde sexual e reprodutiva é outra problemática. Trazendo mais uma vez o caso brasileiro: O aborto é um dos principais causadores de mortes maternas no Brasil. Temos a sétima maior taxa de gravidez adolescente da América do Sul, segundo dados referentes ao período de 2006 a 2015 divulgados pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Empatando com Peru e Suriname, com um índice de 65 gestações para cada 1 mil meninas de 15 a 19 anos. 

Trocando em miúdos, a luta ainda é para existir. 

Assim, as mulheres afrodescendentes querem reparação.

Querem visibilidade não só nos censos e estatísticas nacionais, mas também nos meios de comunicação.

Querem o fim de todas as violências contra as mulheres, com atenção às afrodescendentes, as maiores vítimas do feminicídio.  

Querem viver com dignidade, liberdade e respeito!

Veja o que dizem as mulheres, durante o Tercer Coloquio, em Cali.

Donminique Azevedo é repórter do Portal Correio Nagô.

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