Redação Correio Nagô – O espetáculo “Casulo: uma intervenção trans…”, que estreou em abril deste ano, em Salvador, retorna à Lapa para mais uma apresentação nesta sexta-feira (27), às 20h, com entrada gratuita.
A peça apresenta o “universo simbólico da população LGBT”, tem concepção, direção e encenação do ator Ângelo Flávio e realização da Cia Teatral Abdias do Nascimento (CAN). A apresentação integra o Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia (FIAC).
O diretor e ator, Ângelo Flávio, explica qual o significado de fazer parte de um seleto e concorrido grupos de espetáculos cênicos na programação do FIAC: “há uma alegria em fazer parte desta programação, mas a alegria maior é poder levar o FIAC até a Lapa, é poder compartilhar arte e reconhecimento artístico com os transeuntes desse lugar, onde a maioria nem sabe da existência deste festival, agradeço ao festival pelo reconhecimento e sensibilidade política e cultural”.
Na fábula Zsolo, um cantor de rock viril se apaixona pelo seu companheiro de trabalho, o músico Dhila. No entanto, o parceiro diz que a única forma dele ter ao seu amor correspondido é se ele se transformar em mulher. Zsolo atende ao pedido do seu amor e se transforma na travesti Marion, causando no parceiro estranhamento e espanto, despertando, assim, “a dialética da estranheza que o universo LGBT causa na sociedade”.
Segundo a produção do espetáculo, para desenvolver o roteiro, foram realizadas pesquisas de campo e análise de conteúdo midiático sobre a população LGBT. Também foi realizado um levantamento através de entrevistas, fotografias e filmagens nos pontos de prostituição noturna da cidade de Salvador, das casas noturnas e dos profissionais da área temática.
No elenco, os dançarinos do grupo The Fabolous e a transformista Kaysha Kutnner dão contornos ao universo trans, junto às exibições de curtas documentários criados especificamente para a montagem. Diogo Teixeira e Denise Correia, também cantam e interpretam personagens, o primeiro Dhila e a segunda A Noite, amparados sobre suporte das backing vocals, Alexandra Pessoa e Émile Lapa.
Experiência – Para o diretor e ator, Ângelo Flávio, que saiu travestido no carnaval de Salvador este ano e, visitou boates do público LGBT para fazer o laboratório do personagem, inovar a estética teatral com elementos audiovisuais, possibilita “a integração do público e do vídeo como elementos que misturam ficção e realidade, em um formato de doc-ficção em teatro composto por intervenções verídicas de pessoas do universo LGBT”.
“Um dos objetivos do espetáculo é despertar o sentimento de cidadania e respeito às diferenças, é dar visibilidade ao discurso da população LGBT, por isso, o lúdico vem acompanhado do verídico,” afirma o diretor.
O cenário foi idealizado pelo cenógrafo e artista plástico Marcos Costa, incorporando na cena ambientes, como o lar, as ruas, o palco…espaços onde a poesia da lembrança e a solidão concreta se encontram e ganham vida. A concepção do figurino é de Rino Carvalho e de Luis Fordon.
Carreira – O ator, diretor e militante baiano, Ângelo Flávio é bacharel em direção teatral pela Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia e já participou de diversas montagens do Teatro, Televisão e Cinema. Em 2002, funda a Cia Teatral Abdias Nascimento na UFBA, primeiro grupo negro de teatro de formação superior na Bahia.
A trajetória dele passa ainda pelos espetáculos O evangelho segundo Maria, onde recebeu o Prêmio Brasken como ator, na direção dos espetáculos As irmãs de Brecht, A casa dos Espectros, O Dia 14, todos premiados.
No cinema, atuou em Fora do Rumo, Eu me Lembro, Quincas Berro D’água, O Fim do Homem Cordial, Trampolim do Forte, Estranhos (favorito a prêmio como ator) e A beira do Caminho. Na televisão, marcou presença em Dona Flor e seus dois maridos e a Grande Família.