Em janeiro de 2013, um capitão da Polícia Militar, em Campinas, São Paulo, circulou ordem sobre o patrulhamento em dois bairros da cidade. O texto dizia abertamente que se os policiais cruzassem com suspeitos brancos, não deveriam desconfiar deles. Se fossem pardos e pretos, a abordagem deveria ser imediata.
Casos como esses evidenciam as garras do estigma racial, por meio do qual o corpo negro é associado à criminalidade. Entre os garotos pretos e pardos da periferia são recorrentes relatos sobre excessos na abordagem policial.
“Negro parado é suspeito, negro correndo é ladrão”, são frases repetidas que retroalimentam as diversas faces do racismo. E foi, justamente, esta frase que provocou o Coletivo DMV22 a criar o espetáculo de dança “Movimento I, Parado é Suspeito”.
A montagem – a ser apresentada no Teatro do Goethe-Institut/ICBA, em Salvador, nesta quarta (14), às 20 horas – questiona os lugares dos sujeitos cuja origem está na diáspora africana, daqueles que a cor da pele é critério de ameaça de antemão.
O ator e coreógrafo Mário Lopes, conta, em entrevista ao Correio Nagô, que o trabalho parte das sonoridades do passado, que continuam a gritar no presente. “Mais do que trazer soluções, a ideia é questionar, refletir com o público e compartilhar as marcas, os traumas, os nós, os traumas que essa abordagem policial causou e causa nos corpos dos jovens negros no Brasil”, revela.
“É a possibilidade de desatar esses nós, de trabalhar esse trauma e construir um estado de um corpo empoderado, que possa se deslocar em qualquer lugar, com dignidade, em qualquer lugar do mundo”, finaliza.
Donminique Azevedo é repórter do Portal Correio Nagô