“Qual Exu você conhece?”. O questionamento traz à tona uma série de preconceitos que ainda existe em relação à divindade, tema do espetáculo Exu – A Boca do Universo, que volta a cartaz de 04 a 07 de maio, às 19h, no Teatro Gregório de Matos. Ingressos custam R$ 20 (inteira)
“Ainda existe muito preconceito com relação as divindades de matriz africana e Exu é o mais demonizado. O espetáculo tem como objetivo mostrar a beleza e grandiosidade deste Orixá, seu poder de comunicação, já que ele é o mensageiro. Exu é o Orixá mais importante do panteão de divindades, sem ele não há comunicação entre os planos, entre os povos, entre os humanos e os Orixás. Desta forma o espetáculo é uma contribuição neste processo de quebra dos estigmas e sim uma contribuição na luta contra o ódio religioso, porque intolerância religiosa já não dá conta da violência que estamos sofrendo”, reafirma, em entrevista ao Correio Nagô, a pesquisadora e diretora da peça Fernanda Júlia Onisajê.
O espetáculo – do Núcleo Afro Brasileiro de Teatro de Alagoinhas (NATA) – já rodou mais de 30 cidades brasileiras pelo Palco Giratório do Sesc 2015, abordando cinco qualidades/características dentro do universo que é esta divindade e alguns itan – palavra em ioruba que significa lendas, histórias e mitos.
As apresentações dão início as ações do projeto de manutenção OROAFROBUMERANGUE, que serão realizadas em 2017 e 2018, nos municípios de Alagoinhas e Salvador, através do edital de manutenção e coletivos da SECULTA/BA.
Serão realizadas oficinas para comunidade de Alagoinhas, duas edições do IPADÊ – Fórum NATA de Africanidade (Alagoinhas e Salvador), apresentações de Exu – A Boca do Universo (Salvador), temporadas do projeto Natas em Solos – Seis Olhares Sobre o Mundo (Alagoinhas e Salvador), manutenção e montagem do espetáculo Oxum.
“Oxum é a montagem que culmina o projeto e nós desejamos por meio da história, da beleza, grandiosidade do Orixá Oxum falar de empoderamento da mulher negra. Como o espetáculo só será montado no próximo ano, 2018, o que posso adiantar é que Oxum é uma rainha yorubana que lutou pelos direitos das mulheres, quando esteve no plano da materialidade o Ayiê. Ela e as demais yabás são exemplos de luta e de empoderamento da mulher na luta contra o patriarcado opressor. Então queremos transpor o estereótipo de ser apenas senhora da beleza e da vaidade, para mostrarmos uma Oxum empoderativa, feminista e ampliadora do amor e do respeito a diferença e ao outro”, adianta Fernanda Julia.
UM POUCO MAIS SOBRE ESPETÁCULO EXU
Na construção dessa trama, Daniel Arcades e Fernanda Júlia Onisajé atuaram conjuntamente. “Ela assumiu a posição iaquequerê (mãe pequena), ou seja, de conhecedora da cultura do candomblé, e do que poderia ou não ser público. Uma grande provocadora, trazia sugestões de itan e orikis (poesias). Eu assumia um lado mais sociológico e lírico na dramaturgia. Não queremos fazer catequese. O espetáculo é uma celebração da vida”, conta Arcades.
A montagem narra sem compromisso cronológico momentos em que Exu se mostra diferente daquilo que tanto se pregou na cultura ocidental e o apresenta como celebrador da vida e da comunicação. “
Durante o período de montagem a dramaturgia de Arcades dialogou com o processo de direção, mais a atuação de cada um dos atores, mais a música de Jarbas Bittencourt, mais a direção de arte de Thiago Romero – que assume cenário, figurino e maquiagem, mais a coreografia de Zebrinha, que prepara corporalmente e traz a dança dos orixás, principalmente, as ligadas a Exu.
A luz que acentua e instala o jogo e as atmosferas da cena, são de Nando Zâmbia, que também é ator e coordenador técnico do NATA. A música de Jarbas Bittencourt provoca um trânsito entre o Ayê e o Órun.
Em cena, Thiago Romero Daniel Arcades Sanara Rocha Fabíola Nansurê Antônio Marcelo e Fernando Santana.
Susan Kalik e Francisco Xavier são uma produção ativa. Sanara Rocha, além de instrumentista do NATA, é uma grande provocadora sonora. “Não consigo criar sem música e ela é a instrumentista do grupo, então criávamos na sala de ensaio muita sonoridade. Improvisamos muito para criarmos atmosféricas cênicas”, relembra Onisajê.
Donminique Azevedo é repórter do Portal Correio Nagô.