Este texto é a segunda parte da reportagem Um lugar chamado Etiópia , publicada no site Balaio de Notícias. Nas duas narrativas o autor mostra um itinerário da história e do cotidiano daquele peculiar país africano, o qual teve a chance de visitar recentemente.
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Pegar um táxi na Etiópia é uma experiência única. Seguindo as regras das grandes metrópoles de possuírem uma cor padrão dos carros (como em Nova Iorque, onde todos são amarelos, ou em Londres, pretos), em Addis Abeba, a capital do país, todos os táxis são da cor azul, e em sua maioria da empresa russa Lada. Ao que para um visitante desatento pode significar apenas uma curiosidade estética, tem uma razão política.
A Etiópia foi governada por um brutal regime comunista de 1974 até 1987, quando o Derg, a junta militar, gerenciou o maior e mais populoso país do leste africano, causando, segundo analistas, danos sentidos até hoje na população. A história começa com a derrubada do então imperador Haile Selassie I, (considerado um déspota, para uns, e a encarnação de Jesus, para os rastafáris) marcando o fim de uma monarquia milenar que, segundo a tradição, tem raízes em momentos históricos narrados na Bíblia.
Os etíopes possuem uma piada para descrever a Etiópia. “Quando não estamos em guerra, estamos planejando a próxima”. De fato, a história etíope sempre foi vinculada a disputas e conquistas militares. A maior delas: a resistência contra a ocupação italiana na época da colonização, entre 1895 a 1896. Mas nem todas as batalhas acabaram bem. A última, que durou 30 anos, e tentou impedir a separação da Eritreia, fez com que o país chegasse à base da pirâmide, sendo considerado um dos países mais pobres do mundo.
E por falar em guerra, há nomes que são como palavrões em qualquer lugar do país. Um dos principais, o ex-presidente Mengistu Haile Mariam, o militar que governou a Etiópia durante o regime comunista. Hoje exilado no Zimbábue, o ex-oficial deu um golpe nos amigos comunistas idealistas para implementar um dos mais brutais regimes sanguinários do continente. A prova da brutalidade de Mengistu