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“Eu uso a atriz a serviço da cantora”, diz Zezé Motta sobre show “Negra Melodia” que apresentará em Salvador

abrcassedeEm entrevista ao Portal Correio Nagô a cantora, que apresenta canções de seu mais recente trabalho ao lado do violonista Zeppa, falou sobre carreira, homenagens e racismo

Por Anderson Sotero

 

Redação Correio Nagô – No repertório, músicas dos cantores Luiz Melodia e de Jards Macalé. No palco, uma cantora e atriz com 45 anos de carreira. Na próxima quinta-feira, dia 11 de abril, às 20h, Zezé Motta, 68 anos, subirá ao palco da Caixa Cultural Salvador, no Centro, para cantar músicas marcantes de sua carreira como “Senhora liberdade”, “Muito prazer” e “Rita Baiana”, além de sucessos como “Magrelinha”, “Fadas” e “Estácio Holly”.

Em entrevista ao Portal Correio Nagô, Zezé contou que recebeu o convite para fazer o projeto e, nas conversas sobre a produção, surgiu a ideia de homenagear os dois artistas. “Eu disse ‘porque não?’ É um show bem dinâmico, romântico e alegre. A parte do repertório de Melodia é mais leve. Macalé é bem dramático. Eu uso a atriz a serviço da cantora”, adiantou.

Batizado de “Negra Melodia”, o espetáculo, que leva o nome do seu mais recente CD, ainda será reapresentado nos dias 12, 13 e 14 de abril. Com uma carreira de cantora iniciada na década 1970, quando gravou seu primeiro disco solo, com composições de Rita Lee e Moraes Moreira que entregaram canções inéditas à artista, Zezé consagrou ainda músicas como “Trocando em Miúdos”, de Chico Buarque e Francis Hime, e “Pecado Original”, de Caetano Veloso.

O grande homenageado Luiz Melodia também contribuiu para sua vida musical, numa parceria que se mantém até hoje. Zezé  lançou ainda uma canção de Jards Macalé e Duda, chamada “Sem Essa”. A canção foi considerada um marco em sua discografia. Agora, neste show, ela conta sua trajetória a partir destes dois compositores.

“Sou fanzona deles. Acho o máximo. Grandes poetas. Em quase todos meus trabalhos você vai encontrar músicas deles”, contou a cantora que mora no Rio de Janeiro.

“Uma vez uma repórter me perguntou se eu era a intérprete que mais entendia de Melodia e eu respondi que as vezes eu nem entendo, mas gosto assim mesmo (risos). O Macalé também eu gosto demais”, acrescentou.

O acesso ao show, que tem direção musical da própria cantora, será feito mediante a troca do ingresso por 1kg de alimento, na bilheteria do evento, que abre às 14h dos dias de espetáculo.

“Amo a Bahia e os baianos. Gosto de tudo, das praias, comida. Há muito tempo que não vou, mas teve uma época que eu frequentava bastante. Tive uma grande paixão na Bahia. Toda vez que entro no mar do Rio de Janeiro lembro da Bahia. Aqui no Rio a água é tão fria”, destacou Zezé.

19513 341166742673210 1312118689 nAtriz – Nascida em Campos dos Goytacazes (RJ), em 27 de junho de 1944, Maria José Motta de Oliveira mudou-se com a família, para o Rio de Janeiro, aos 2 anos. A carreira de atriz começou em 1967, na peça “Roda-viva”, de Chico Buarque. Em 1969, atuou em “Fígaro, Fígaro, Arena canta Zumbi” e “A vida escrachada de Joana Martini e Baby Stompanato”.

Em 1972 participou de “Orfeu Negro” e, em 1974, atuou em “Godspell”. Participou do filme “Xica da Silva” (1976) que a consagrou internacionalmente. A carreira de cantora teve inicio em 1971, em casas noturnas paulistas. De 1975 a 1979 lançou três LP. Nos anos 1980 lançou mais três discos.

“Comecei primeiro como atriz, mas sempre sonhei ser cantora. Como a oportunidade surgiu primeiro, abracei. Ganhei uma bolsa de estudos, fiz o curso de teatro e fiquei muito feliz. Assim que me formei fiz teste para Roda Vida e passei”, relembrou a atriz.

No entanto, Zezé contou também que a trajetória dupla teve alguns percalços. Um deles foi o racismo. No teatro, ela disse que não sentiu muito, mas que na TV e cinema foi “complicado” porque a chamavam sempre para fazer o mesmo papel. “Nada contra. Pode me chamar para fazer quantas empregadas domésticas quiser desde que seja protagonista ou faça parte realmente da trama”, disse.

Durante sua carreira, os papéis começaram a se repetir. “De repente comecei a fazer papel só de abrir e fechar a porta e dizer sim senhora, mas aí eu comecei a reclamar e cobrar”, emendou Zezé que em 2002 anunciou um catálogo, pioneiro do gênero na internet, para atores brasileiros afro-descendentes no mundo. É assim que funciona o site do Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro (www.cidan.org.br), que foi lançado com versões em inglês e francês.

folder“Acabei criando o Cidan para facilitar a vida. Quando eu estava em cena, não tinha espaço para Neusa Borges. Quando ela era convidada não tinha lugar para mim que somos contemporâneas”, ponderou a atriz.

Depois que passou a questionar a situação de negros e negras na teledramaturgia, a atriz avaliou que muitas mudanças ocorreram. “Isso era um problema muito sério. Depois de muita luta eu acho que as coisas estão mudando a passos lentos. Não tem mais só um ator ou atriz negros”, complementou. No entanto, ela disse que, apesar dos avanços, não perdeu o olhar crítico. “Nos filmes, quando não é de escravidão, eu fico contando quantos atores negros tem”.

Zezé ressaltou ainda que os avanços são visíveis, mas acredita que ainda faltam conquistas. “A coisa melhorou. A gente está vendo a Thaís Araújo como protagonista, a Isabel Fillardis. Eu mesma já fiz vários papéis diversificados depois de dar muitas cotoveladas, mas ainda falta espaço para atores negros”, finalizou.

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