Por Pedro Caribé*
“Se quisermos enfrentar o horror instaurado em Brasília, a onda vem pelas cidades, e a nova estética política é das mulheres negras”.
Vale situar aos desavisados, ou os que insistem em tentar apagar, que existe uma pré-candidatura negra à prefeitura de Salvador no Partido dos Trabalhadores (PT). O nome dela é Vilma Reis, e foi a partir da sua iniciativa que a campanha #Euqueroéela se espraiou e modificou, como nunca na história, a agenda dos partidos na capital baiana, principalmente os de esquerda.
Tal pré-candidatura está entranhada nas pedras e águas desta cidade, se fala nas ruas, nos sambas, nos terreiros, nas cozinhas, na porta das escolas.
Mais ainda, ela é articulada nacional e internacionalmente. Pode ser uma das respostas mais consistentes da sociedade brasileira ao terror aprofundados dos últimos anos. O maior partido do país pode levar à frente uma mulher negra neste porto da ordem colonial e escravagista da modernidade eurocidental.
Pois bem, os que acham que tal pré-candidatura veio pra barganhar ou recuar, leiam algumas partes que destaquei, e editei, do potente discurso de Vilma no 1º Encontro Internacional da Coalizão Negra por Direitos, no dia 30 de novembro em São Paulo.
“Esse é o tempo de pedagogia da desobediência. Lançamos a candidatura no dia 02 de julho para interromper o familismo na política, os “Junior” e os “Netos”. Nossa disputa não é com nenhum negro ou negra.
Nós queremos que os brancos anti-racistas conversem com Gleisi Hoffmann e a direção do Partido dos Trabalhadores. Porque nesse país um branco só confia em outro branco. Nós queremos que o branco anti-racista cumpra o seu papel na história. Não é tempo de se manter quieto para manter privilégios.
Branco legal com dente arreganhado, que vai nas nossas atividades. Muito bacana. Mas não vai dar dessa vez.
A esquerda branca tem que parar de passar vergonha ao querer terceirizar a voz da mulher negra porque acha que nenhuma de nós tem condições de disputar.
Se quisermos enfrentar o horror instaurado em Brasília, a onda vem pelas cidades, e a nova estética política é das mulheres negras.
Nós não andamos só. Viva nós e as águas”.
*Pedro Caribé é jornalista, doutor em Comunicação pela Universidade de Brasília (UNB) e responsável pela Rede de Mídia Livre Bahia 1798.
Publicado em 02/12/2019