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FEMINISMOS NEGROS EM PAUTA: “Mulheres negras não podem falar baixo, têm que andar de cabeça erguida e bicão na diagonal

24/07/2018 | às 16h10 | Atualizado em 24/07/2018

“Numa sociedade perversa que gente vive, mulheres negras não podem falar baixo, têm que andar de cabeça erguida e bicão na diagonal. A gente aprendeu com Alice Walker que falar alto é exercício de poder. Tem gente que vai dizer que somos barraqueiras, mas a gente não tem problema nenhum com isso”.  

A fala da socióloga Vilma Reis revela estratégias sobre como os feminismos negros vêm “enegrecendo as reivindicações das mulheres, tornando-as mais representativas no conjunto das mulheres brasileiras, e, por outro, promovendo a feminização das propostas e reivindicações do movimento negro”, como pontua Sueli Carneiro. 

Vilma Reis é Ouvidoria-Geral da Defensoria Pública do Estado – DPE-BA

O projeto Redação Itinerante, do Correio Nagô, da última quarta-feira (18) abordou o tema com uma turma que marcou presença para falar sobre como os feminismos negros atravessam as suas histórias de vidas. O evento aconteceu no Espaço Vale do Dendê e contou também com a audiência atenta de estudantes da rede pública.

O Julho das Pretas é marcado por uma série de atividades que pautam a questão da mulher negra na sociedade e o Correio Nagô resolveu convidar mulheres negras com diferentes lutas e vivências para compor uma roda de conversa em dois atos. São diferentes questões  que compõem o movimento social e essa pauta não poderia ser levantada no singular, principalmente quando se fala em mulheres negras com as mais diversas histórias e realidades que, a partir de seus lugares de falas, enfrentam o racismo e o sexismo. 

Feminismos Negros em pauta na última edição do Redação Itinerante

No primeiro momento, o evento contou com a participação Viviane Nascimento, Naila Souza e Tata Ribeiro. Já no segundo momento, Vilma Reis, Lindinalva de Paula, Cleidiana Ramos, Vânia Dias e Mariella Santiago fizeram parte da roda de conversa. A mediação ficou por conta  de Donminique Azevedo.

OS MUITOS MOVIMENTOS DE MULHERES NEGRAS

As múltiplas e simultâneas opressões a toda a população afrodescendente exigem das mulheres multiplicidades de ações, também simultâneas.

Viviane Nascimento, por exemplo, é doula e publicitária. Trava diversas lutas pelo movimento de parto humanizado para mulheres negras, uma vez que estas pessoas são as maiores vítimas da violência obstétrica. Naila é graduanda do Bacharelado Interdisciplinar de Humanidades da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mãe de uma criança de dois anos. Encampa outras inúmeras batalhas para a permanência e assistência às mães negras universitárias.

Tata Ribeiro é grafiteira e doutoranda pela UFBA. Sabe que machismo e racismo permeiam também os universos acadêmicos e do grafite. Outras tantas lutas.

Na literatura, Cristian Sales evidencia as escrevivências das mulheres negras: muitos levantes literários.

Vânia Dias é jornalista, uma das poucas apresentadoras negras na TV, e mestra em Cultura e Sociedade pela UFBA,. Muitos enfrentamentos também. 

Cantora, artista e jornalista, Mariella Santiago sabe que existir e resistir nesses espaços requer combate, assim como Cleidiana Ramos que atuou por muitos anos no jornal A Tarde pautando, de maneira consistente, temas caros às mulheres negras. 

Tão importante quanto, Lindinalva de Paula articula inúmeras ações de resistência, principalmente com e para as mulheres periféricas.

A lista das mulheres negras brasileiras que lutam contra a opressão racial, sexual, heterossexual e de classe é extensa, diversa e não se encerra nestas acima citadas. Pelo contrário, são somativas e se complementam.

Ashley Malia é repórter-estagiária do Portal Correio Nagô

Donminique Azevedo é editora do portal Correio Nagô.

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