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FLICAIXA: Escrevivências de Conceição Evaristo e de Lívia Natália emocionam público

No último sábado (29) ocorreu o FLICAIXA (Festa Literária da CAIXA), no qual, às 18h, pontualmente, a mesa “Nossa Milenar Escrevivência” teve início com a fala de Wesley Correia que mediou o debate entre as escritoras Lívia Natália e Conceição Evaristo.  

Alguma salvação a nossa resistência quilombola vai construir – Conceição Evaristo.

FOTO: Joyce Melo

FOTO: Joyce Melo

O desejo de muitos em ouvir estas e outras palavras fortes, as histórias, os contos, crônicas e poesias das escritoras Lívia Natália e Conceição Evaristo tornaram a Caixa Cultural – local onde o FLICAIXA ocorre –  pequena.

A poetisa Bia Santana, em entrevista ao Correio Nagô, argumentou sobre a importância desta mesa, posto que trouxe figuras representativas para a comunidade negra, ao tempo que lamentou o fato de não conseguir entrar.

“Eu vim na expectativa de ver Conceição Evaristo que é uma representatividade pra gente com relação à literatura negra. Eu vim pra poder acompanhar, pegar essa mesa, mas infelizmente não deu porque muita gente veio nessa mesma perspectiva”, lamentou Bia Santana.

A professora de Enfermagem Suiane Costa conseguiu garantir seu lugar, grata pela noite expressou o prazer em ouvir as duas autoras e argumentou: “A gente, enquanto negro, cresce lendo histórias que não falam de nós, não nos retratam e a literatura discutida aqui hoje é o contrário disso, pois fala de nós e me toca profundamente”.

Caminhando acerca de diversos temas como racismo, afetividade, invisibilidade e outros, a mesa foi encerrada com o público aplaudindo de pé Conceição Evaristo que recitou o conto “Olhos d’água” que compõe seu livro de mesmo nome.  

FOTO: Joyce Melo

FOTO: Joyce Melo

Após o debate, houve a possibilidade de comprar os livros das autoras convidadas e tê-los autografados. O espaço de vendas ficou cheio e logo a fila em torno da mesa onde as autoras iriam dar os autógrafos se formaram.

HOLOFOTES MAIORES

Apesar dos livros publicados pelas escritoras não serem de editoras famosas e não estarem na mídia, da forma como deveria, o alcance das suas publicações é alto.

A divulgação do poema “Quadrilha” gerou para Lívia, autora do escrito, muitas ameaças e exposição da parte de policiais e algumas pessoas que a condenaram por levantar questões às chacinas de jovens negros pela PM.

“Os santos que me acompanham me disseram que tudo que aconteceu com “Quadrilha” era pra que eu pudesse me preparar para holofotes maiores”, revelou Lívia.

O primeiro livro de Lívia Natália “Água negra e outras águas” está praticamente esgotado, com cerca de 100 exemplares restantes. O segundo “Correntezas: e outros estudos marinhos” está seguindo o mesmo fluxo. Enquanto o lançamento de seu novo livro “O dia bonito pra chover” já vem navegando, desta vez, repleto de poesias de amor.

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FOTO: Joyce Melo

 Em entrevista ao Correio Nagô, Lívia considera a existência de uma demanda de pessoas negras e brancas que querem ler literatura negra. Considerou também o diálogo existente entre as suas obras e o público que muitas vezes, a partir de seus escritos, descobrem que gostam de poesia porque encontram sintonia entre suas próprias histórias e a obra.

LIVRO É UMA MATÉRIA MORTA

A escritora mineira, Conceição Evaristo, atraiu muitas pessoas para a Caixa Cultural, o que demonstra o seu sucesso a nível nacional. Feliz e preocupada ao saber que havia um grande público ansioso pela sua participação, a mineira, em entrevista, contou o quanto estava grata.

“O livro é uma matéria morta, se você faz o livro e bota na prateleira, ou se você compra um livro e não ler, o livro por si só, a matéria, o objeto, ele não tem essa potência. A potência do livro é construída a partir da leitura. Eu só posso agradecer porque eu escrevo a história e o leitor que constrói ou reconstrói essa história”, argumenta Conceição.

Preocupada com as pessoas que ficariam de fora da mesa questionou se nada poderia ser feito para que estas participassem e perguntou se não havia nem um telão. Não havia.

Sentindo-se mais uma vez feliz por estar na capital da Bahia, Conceição disse:

Eu vim à Salvador pela primeira vez bem jovem e acho que todo negro que vem a Salvador se sente em casa.

A ESCRITA CONTAMINADA

“O que eu escrevo é contaminado pela minha vivência de mulher negra”. – Conceição Evaristo

Mais do que escrever, mais do que passar para o papel experiências e ideologias aleatórias, as escritoras Lívia Natália e Conceição Evaristo se propõem a transformar em verso, crônica e conto às suas vivências.

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Dentre a emoção do público, lágrimas de algumas mulheres, rimas, encontro de olhares e vivências, o tema da noite estava posto, a escrita da mulher negra e a sua sistemática invisibilidade. O lugar da inexistência imposta pelo machismo, patriarcalismo e racismo.

Conceição Evaristo considera que escrever sobre a vivência de mulher negra é o que dá sentido à sua escrita. E acrescenta: “o olhar para a mulher negra é achando que ela não deveria estar ali”.

Lívia Natália, além de entender que a obra de arte deve trazer mudança social, diz que não há como não escrever sobre estas vivências. Pois, “como eles podem querer pisar na gente, humilhar, matar e depois querer que falemos de flores?”.

“Há editoras para eu publicar meu livro, mas eu sou a exceção que confirma a regra de exclusão das autoras negras”, complementa Lívia Natália.

ESPETÁCULO “MINAS DE CONCEIÇÃO EVARISTO” TERÁ ENSAIO ABERTO NO TEATRO GREGÓRIO DE MATOS

Nesta terça-feira (02) às 19h, haverá o ensaio aberto do espetáculo “Minas de Conceição Evaristo”, inspirado no livro “Poemas das recordações e outros movimentos” de Conceição Evaristo. A apresentação será no Teatro Gregório de Matos (Praça Castro Alves, s/n – Centro, Salvador – BA).

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Vera Lopes. Foto: Joyce Melo

 

A estreia será nos dias 6 e 7 de maio no Itaú Cultural na Ocupação Conceição Evaristo, em São Paulo. As atrizes que atuam na peça são: Emillie Lapa, Glau Barros, Vera Lopes, Alexandra Pessoa. A direção da nova montagem fica a cargo do diretor gaúcho Jessé Oliveira.

A atriz Vera Lopes, em entrevista ao Correio Nagô, revela: “acompanho a Conceição há muito tempo, ano passado, fui à FLICA só para ver a Conceição e agora a gente está com esse espetáculo”.

“O espetáculo é lindo porque são 4 mulheres em cena e a gente dá vida a essas mulheres que a Conceição criou. Nós trazemos para a cena essas mulheres. Está muito bonito, é um espetáculo bastante musical”, explica Vera que convida a todos para assistir.

 

Joyce Melo é repórter do Portal Correio Nagô.

 

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