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Hoje é dia do inquice Tempo

Cidalia

Ebomi Cidália de Iroko, do Gantois. Foto: Margarida Neide

De lá do lugar onde não há temporalidades. Da vida existindo simultaneamente em passado, presente, futuro. Do centro da eternidade menina. Quando muito vento. Quando pouco vento também. Enraizado na Gameleira branca, arrodeado de encantados e humanos reverentes: eis que candomblé saúda o nkisi Kitembo.

“10 de agosto é Zambi tendo que esperar”, o poeta profetizou. A dança do dia é o samba da alegria em poder estar frente ao patrono maior dos congo-angoleiros. Hoje é a festa do inquice brejeiro, eterno menino, que ri do mundo, o que vê tudo passando sem tédio ou agonia, mentor do alívio que buscamos e a cura maior das dores da existência, inquice essência da transformação.

A Bandeira Branca tremulando do alto dos nossos terreiros congo-angola a externalizar a fé negra que nos move – atabaques tocando em quicongo, em quimbundo, em português – a favor da dança do dono do infinito, “um dos deuses mais lindos”, “Senhor tão bonito quanto a cara do meu filho”, aquele que recebe pedidos riscados no madrasto dependurado na árvore que é Ele. Mistério de toda juventude. Inquice presente em todos os elementos.

Tempo está para os angoleiros, assim como Oxalufã está para os nagôs e Bessem para os jejes. Ali nos símbolos que são Ele – habita o movimento que alcança a profunda estagnação para ser movimento novamente. Tempo é a composição dialética da existência do humano e do não humano. Seu corpo é o céu e o chão. Sua voz é música. Sua esperança é a indissolúvel continuação.

Em algumas casas de santo Ele é verde e branco, noutras o cinza presente no orixá Iroko. Energias irmanadas, Tempo e Iroko habitam a Gameleira. São a Gameleira.

Mãe Zulmira  do Unzó Tumbenci. Foto: Fafá M. Araújo

Mãe Zulmira do Unzó Tumbenci. Foto: Fafá M. Araújo

Hoje o pai do Unzó Tumbenci, Tempo das nossas conquistas, dança no corpo da mameto kwa nkisi Zulmira de Santana França, refastelando-se em paçoca, milho, amendoim – na carne que alimenta os humanos -, elevando-nos à condição de abençoados por brincarmos de felicidade ao lado das entidades em que acreditamos e que comandam o nosso destino de adeptos do candomblé.

Tempo dia Banganga. Esteio de uma nação. Êla Tempo, Êla Compadre. Que o samba seja seu, a comida farta, o dia ensolarado, os corações transparentes na fé e na verdade. Que tenha a arte que lhe alcança e a poesia traz saúde.

Salve este dia! Pois a força está anunciada.

Marlon Marcos é poeta.

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