Iniciativa baiana, nascida na Ilha de Itaparica, é reconhecida nacionalmente por sua atuação no combate à fome e no reaproveitamento de alimentos com base em tecnologias sociais afrocentradas.

O Instituto Cultural Bantu (ICBANTU), fundado em 2006 pelo capoeirista e educador social Edielson Miranda, o Mestre Roxinho, foi um dos vencedores do Prêmio Pacto Contra a Fome 2025, na categoria Redução e/ou Reversão do Desperdício de Alimentos, com o projeto Ajeum Bantu. A premiação, realizada na última terça-feira (4), no Teatro do SESI, em São Paulo, reuniu lideranças do terceiro setor, gestores públicos e representantes de agências da ONU, como UNESCO, FAO, WFP, UNICEF e PNUMA, em uma celebração conduzida pelo ator Luis Miranda.
O Prêmio Pacto Contra a Fome é uma das mais relevantes iniciativas nacionais de reconhecimento e incentivo a projetos que enfrentam a fome e o desperdício de alimentos no Brasil. Em sua terceira edição, recebeu mais de mil inscrições de todas as regiões do país e premiou seis iniciativas com R$ 100 mil e o Troféu Pacto Contra a Fome, assinado pelo artista Vik Muniz.

Ajeum Bantu: um ecossistema vivo de combate à fome
Criado em 2020, em meio à pandemia, o Ajeum Bantu nasceu na cidade de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica (BA), território onde mais de 53% da população vive em extrema pobreza. O projeto atua como um ecossistema vivo e afrocentrado, que integra alimentação, educação, cultura e sustentabilidade.
O funcionamento do Ajeum é baseado em um ciclo sustentável e fechado:
- Recebe alimentos excedentes, mas próprios para consumo, de parceiros como o Atakadão Atakarejo e o Mesa Brasil (SESC);
- Garante segurança alimentar a mulheres, mães solo, crianças e famílias afro-indígenas;
- Transforma excedentes em doces, compotas, geleias e licores por meio da Cooperativa NKUTA, gerando renda, autonomia e protagonismo feminino;
- Reaproveita resíduos orgânicos na produção de compostagem e hortas agroecológicas, fechando o ciclo sustentável e devolvendo vida à terra.

“Alimentamos pessoas enquanto formamos pessoas. Alimentamos a consciência enquanto geramos cultura, pertencimento, renda e esperança”, afirma Mestre Roxinho, fundador e CEO do Instituto Cultural Bantu.
Com a premiação, o Instituto Cultural Bantu planeja ampliar sua cozinha comunitária, criar novas hortas em terrenos baldios e implantar o Restaurante Escola Social NKUTA BANTU, que servirá refeições populares durante a semana e gastronomia afro-diaspórica aos finais de semana. Os recursos gerados serão reinvestidos para garantir a sustentabilidade do ecossistema social.
“O projeto Ajeum Bantu é um ecossistema de justiça social que alimenta hoje e planta o amanhã.” Mestre Roxinho.
Duas décadas de legado e transformação
O Instituto Cultural Bantu surgiu a partir da trajetória de vida de Edielson Miranda (Mestre Roxinho), nascido na Ilha de Itaparica. De vivências marcadas pela fome e pela exclusão, ele construiu um projeto de emancipação social por meio da Capoeira Angola, compreendida como cosmovisão africana e tecnologia social de justiça e liberdade.
Ao longo de quase duas décadas, o Instituto consolidou-se como uma referência nacional e internacional em educação, segurança alimentar, regeneração socioambiental e fortalecimento da identidade afro-brasileira. A atuação de Mestre Roxinho já chegou a comunidades no Brasil, a jovens refugiados na Europa e Austrália, e a crianças vítimas do tráfico humano nas Filipinas.
Entre os principais reconhecimentos, o Instituto Cultural Bantu acumula:
- 2023: Prêmio LED – Luz na Educação (Rede Globo e Fundação Roberto Marinho);
- 2024: Prêmio Melhores ONGs;
- 2025: Menção Honrosa da Câmara Estadual de Cultura da Bahia;
- 2025: Prêmio Pacto Contra a Fome.
Em 2026, o Instituto completará 20 anos de existência, celebrando uma trajetória inspiradora que reafirma o poder das tecnologias sociais afrocentradas no combate à fome e na construção de futuros possíveis.




