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Intolerância Religiosa é discutida na obra de Abdias Nascimento

Foto I Mila

Foto I Mila

Redação Correio Nagô*

“Dignidade da raça” e os “os orixás também sofrem”. Estes são alguns dos trechos do Sortilégio II- Mistério Negro de Zumbi Redivido, peça que está em cartaz desde o dia 21, no Teatro Vila Velha, em Salvador. O texto, que pertencente ao escritor Abdias Nascimento e que foi adaptado pelo diretor Ângelo Flávio, aborda questões sobre a intolerância religiosa, choques culturais e evidencia a tensão de um homem negro que se apaixona por uma mulher negra e outra branca.

Na estreia (21), mais de 120 pessoas fixavam os olhos no palco para observar as interpretações de 12 atores. Dentre os espectadores, estava a viúva de Abdias Nascimento, Elisia Larkin, que comentou a alegria de ver esta obra do dramaturgo sendo executada. “Sortilégio II nunca foi encenada em lugar algum. Há coisas novas neste texto exibido hoje, mas se faz presente a fidelidade dos fatos mostrados por Abdias Nascimento. Eu acredito que ele esteja muito feliz”, mencionou Larkin.

Ângelo Flávio diz se sentir com o “dever cumprido”. O ativista fez questão de lembrar a necessidade de se valorizar a arte, cultivar a paz e disparou: “Fico muito honrado por este texto poder ser escutado, levado ao público. O importante mesmo é que ele foi ouvido e não ficou guardado”, comentou o ator.  Tânia Souza, que interpretou uma mãe de santo na peça, diz que se sente representada pelas questões levantas em Sortilégio e pelas construções retratadas na obra. A atriz diz que fica honrada por ter tido uma experiência como esta.

O boliviano Pablo Donoso, que pela primeira vez teve contato com a obra de Abdias Nascimento, diz que gostou muito. Ele afirma que é justo tratar das questões raciais aqui em Salvador. Pablo conta que a cultura afro representada através das roupas, figurino e dinâmicas no espetáculo demarca um espaço ideológico.

Comemorando o centenário de Abdias Nascimento, o espetáculo Sortilégio II será exibido até o dia 31 de novembro sempre as sextas e sábados, às 20h e nos domingos, às 19 horas, no Teatro Vila Velha.

O intelectual e ativista Abdias Nascimento

Abdias Nascimento nasceu no dia 14 de março de 1914, em São Paulo e morreu no dia 23 de maio de 2011, no Rio de Janeiro. Ele é um dos nomes representativos do movimento negro no Brasil. Foi poeta, professor universitário, jornalista, escritor e idealizador do Teatro do Sentenciado, o qual daria corpo ao Teatro Experimental do Negro, implantado em 1944.

O ativista foi exilado para os Estados Unidos de 1968- 1978. Retornando da Terra do tio Sam, Abdias Nascimento ingressou na política, primeiro como deputado federal (1983- 1987) e depois assumiu a cadeira de senador da República (1997-1999).     O intelectual foi responsável pela criação do 20 de novembro como o Dia da Consciência Negra. Em 2009, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz pela luta em defesa dos direitos civis dos afrodescendentes no Brasil.

O dramaturgo também foi jornalista e colaborou, em 1948, para a criação do jornal o Quilombo, publicação que tinha como objetivo disseminar informações de interesse para a comunidade negra. No currículo do intelectual, constam obras como Cinema de Preto (2005), Quilombo (2003), Terra da Perdição (1962) e o Homem do Sputnik (1959).  

 

 * Por  Taciana Gacelin

 

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