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Jovens selecionados em 1° lugar no edital Curta-Afirmativo, contam suas histórias

No dia da Consciência Negra do ano de 2012, Paola Botelho (26) e Milton Martins (30) assinaram a criação da empresa Chica’s Produções, este também foi o dia em que o Ministério da Cultura (Minc) anunciou o edital Curta-Afirmativo. Quase um ano depois, os jovens tiveram o projeto “os filhos Dele” selecionado em primeiro lugar pelo edital e vislumbram um futuro profissional, antes distante, dentro do cenário audiovisual brasileiro.

A história de Milton, Paola e o edital Curta-Afirmativo é repleta de coincidências. Os jovens, que são produtores executivos da TVE-RS, criaram a empresa sem terem equipamentos e com pouco capital de giro. “Quando percebemos que no dia que criamos a Chica’s, o Minc abriu o edital para jovens produtores afrodescedentes, tivemos certeza que não estávamos loucos, que, sim, aquele era o nosso edital. Nós viemos de um dos estados mais pobres do país, onde o incentivo à produção audiovisual ainda é precário. Viemos para o Rio Grande do Sul em busca de um sonho, aqui fomos acolhidos e tivemos a oportunidade de estudar para hoje ter condições de representar os dois estados”, lembra Milton que é formado em Rádio e TV pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e especialista em Cinema pela Universidade de Caxias do Sul –UCS/RS.

É verdade que o estado que aparece em primeiro lugar no resultado final do edital é o Rio Grande do Sul, mas para os jovens, o Maranhão também está em primeiro. “O primeiro lugar é para os dois estados, até porque nós fizemos nossos primeiros filmes no bairro do Sacavém por meio do Projeto de Educação Alternativa Descobrindo o Saber – PEADS, na Universidade Federal do Maranhão conhecemos os primeiros teóricos da comunicação, na Agência de Notícias pela Infância –MATRACA aprendemos a pensar comunicação social e direitos humanos e foi no Maranhão que conhecemos os Agentes de Pastoral Negros do Brasil – APN’s.  Se não tivéssemos origem maranhense não teríamos a ideia de contar as percepções de duas mulheres negras, dona Vera (RS) e dona Dilma (MA), a respeito da manifestação do Sagrado em suas vidas”, comenta Paola que é formada em Jornalismo pela UFMA e especialista em Televisão e Convergência Digital pela Universidade Vale do Rio Sinos- UNISINOS/RS.

 

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É interessante lembrar que os concursos do Ministério da Cultura (Minc), direcionados exclusivamente a artistas negros, foram suspensos pelo Juíz Federal José Carlos do Vale Madeira, da 5ª Vara Federal no Maranhão e, atualmente, encontram-se em situação de sub judice. A decisão expedida pelo juiz no dia 17/05/2013, diz que o Ministério da Cultura “não poderia excluir sumariamente as demais etnias” e que editais “destinados exclusivamente aos negros abrem um acintoso e perigoso espectro da desigualdade racial”.

Depois da suspensão dos editais, no Rio Grande do Sul foi criado o Coletivo Negro de Artistas e Produtores do Rio Grande do Sul, em parceria com movimentos de outros estados, tem como um dos objetivos reivindicar a retomada imediata da normalidade jurídica dos prêmios suspensos. Segundo a Carta divulgada no dia 23/07 pelo coletivo “é importante compreender o momento atual como emblemático em termos de um panorama para a produção artística brasileira, estabelecendo a afirmação da cultura negra como um vetor de desenvolvimento sócio-cultural que busca estabelecer um mercado de trabalho para profissionais negros. Compreendemos que a suspensão dos referidos editais foi mais um ato de racismo institucional operante no Brasil”, declara a carta do Coletivo Negro de Artistas e Produtores do Rio Grande do Sul.Compreendemos que a suspensão dos referidos editais foi mais um ato do permanente racismo institucional operante no Brasil

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Maranhão possui 74% da população representada por Negros, já o Rio Grande do Sul, possui 15,5% . Os jovens maranhenses  não acreditam que a decisão do Juíz seja a decisão da população do Maranhão. “Não acredito que a decisão do juíz  seja reflexo da decisão majoritária da população maranhense. Não tem lógica a população do estado não apoiar os editais, pois a maioria das manifestações culturais do Maranhão são oriundas da cultura africana, a maior parte dos produtores culturais são negros”, afirma Milton.É importante compreender o momento atual como emblemático em termos de um panorama para a produção artística brasileira, estabelecendo a afirmação da cultura negra como um vetor de desenvolvimento sócio-cultural que busca estabelecer um mercado de trabalho para artistas, produtores, empreendedores culturais e pesquisadores negros no campo das artes. É importante compreender o momento atual como emblemático em termos de um panorama para a produção artística brasileira, estabelecendo a afirmação da cultura negra como um vetor de desenvolvimento sócio-cultural que busca estabelecer um mercado de trabalho para artistas, produtores, empreendedores culturais e pesquisadores negros no campo das artes.

Paola e Milton são gratos pelos esforços históricos para que seja consolidada uma política de respeito à dignidade do negro brasileiro e aproveitam, este 20/11/2013, para convidar todos os selecionados no edital Curta-Afirmativo a se manifestarem sobre a importância do edital em suas trajetórias . ”Nós, há 6 anos, estamos lutando em busca de uma oportunidade no mercado audiovisual brasileiro.Temos consciência que se não fossem as políticas públicas de ações afirmativas, nós não conseguiríamos tão cedo o que conquistamos agora, por isso acredito que todos os selecionados no edital devem contar suas histórias.  Essa é a luta de Zumbi dos Palmares, de Zózimo Bulbul, de Oliveira Silveira, de João do Vale e de tantos outros guerreiros negros, maranhenses, gaúchos e brasileiros. É a luta do meu povo e dessa luta eu aprendi a não abrir mão”, finaliza Paola.

 

 

 

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