Redação Correio Nagô – O juiz Antonio Maron André Filho suspendeu na manhã da última terça-feira (4) a sentença de demolição do terreiro Ilê Axé Ayrá Izô, em Campinas de Brotas. A decisão foi tomada em uma audiência realizada na 11ª Vara Civil do Tribunal de Justiça, no Fórum Ruy Barbosa.
Marcos Rezende, coordenador do Coletivo de Entidades Negras (CEN) que esteve no local, disse ao Correio* que o juiz até então não sabia que o imóvel se tratava de um terreiro de candomblé.
(Uma fan page foi criada no facebook intitulada “Não derrube nosso terreiro”)
Diante disso, ele solicitou aos três advogados representantes da família Gagliano, que querem o terreno de volta, a pensar em uma solução e na próxima segunda-feira (10) entrar em contato para a marcação de uma próxima audiência de conciliação.
O terreno possui 878 m². Os membros do terreiro argumentam que o imóvel foi doado verbalmente. Os religiosos contam que uma disputa judicial pelo terreno onde a casa está localizada foi iniciada em 1992 entre familiares do proprietário e os representantes do terreiro.
“Estamos abertos para dialogar, tanto para venda, doação, aluguel ou que nos dê um tempo maior para sair, de um ano, para que a gente possa se estruturar”, disse ao Correio* o filho de santo Ricardo Silva Carvalho, 32 anos.
Apoio – A Secretaria Municipal de Reparação (Semur) de Salvador divulgou que a instituição “dá apoio ao terreiro de candomblé”. Para discutir o destino do terreiro ameaçado por uma ordem de despejo, o secretário municipal da Reparação, Ailton Ferreira, visitou na manhã da quarta-feira a instituição. Para quinta-feira (6), estava previsto um encontro com o promotor de Justiça e coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate à Discriminação, Cícero Ornellas.
Além do secretário, estava previsto também a participação de Paulo Esper – advogado do terreiro. “A nossa intenção é sensibilizar o Ministério Público para que reconheça a importância religiosa do local e, dessa maneira, possa assegurar a manutenção do terreiro”, afirmou o secretário.
Para o secretário Ailton Ferreira, a tradição do terreiro deve ser levada em consideração. “Esse é um espaço de mais de 50 anos. Um local de culto religioso de grande importância para toda a comunidade. Nós estamos aqui prestando a nossa solidariedade a todos os envolvidos nessa situação, com a esperança de que tudo possa ser solucionado da melhor maneira possível, com respeito e reconhecimento a toda a história que abriga este local”, afirmou.
Histórico – A polêmica envolvendo o terreiro teve início há cerca de 50 anos, quando o falecido Ângelo Gagliano resolveu doar o terreno onde funciona o espaço religioso à yalorixá Angélica Santos. A doação, porém, ocorreu apenas de forma verbal e, anos mais tarde, os herdeiros de Gagliano resolveram lutar pela posse da área. A ação, julgada em 2002, foi favorável aos herdeiros que, atualmente, lutam pelo cumprimento da sentença e desocupação do espaço.