Em grandes redações, em blogs independentes, nas redes sociais ou nos vlogges as mulheres pretas estão construindo narrativas da contra informação. Por isso, algumas delas foram convidadas para contar a trajetória de resistência pela qual milita no Seminário Mulheres Negras em Foco, como parte da programação do Julho das Pretas, promovido pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, na última sexta-feira (8), no Auditório da Biblioteca Pública dos Barris, em Salvador.
Na roda, estratégias, novas alternativas e desafios para a representação da mulher negra na comunicação. As atuações à frente ou nos bastidores das produções midiáticas foram a tônica da mesa “Cobertura de Caso de Racismo, Machismo e Racimo Religioso Ontem e Hoje”, com as jornalistas Juliana Dias, Maíra Azevedo (Tia Má), Valéria Lima e Vânia Dias, mediadas pela também jornalista Juci Machado, pela manhã.
Diante de questionamentos sobre a necessidade de pautar temas da comunidade negra na imprensa, Valéria Lima, que atua como produtora na TVE Bahia há nove anos, foi objetiva. “Salvador é uma cidade diversa, não é possível cobrir tudo que acontece ao mesmo tempo. Assim, é necessário priorizar as pautas, e as prioridades ainda são de quem está no poder. Quem escolhe priorizar a pauta não é mulher e nem negro”, disse. Para Juliana Dias, jornalista com dez anos no mercado, o comportamento da ‘imprensa negra’ nas redações possui um olhar diferenciado. “A gente tem esse olhar comprometido que não vemos em outros colegas mas que percebiam em qualquer pauta que a gente tratasse. Em casos de polícia, por exemplo, a gente não ia só ouvir a versão policial”, analisou a jornalista. Ambas as jornalistas integraram o Instituto Mídia Étnica no início de suas carreiras profissionais.
Para fechar o primeiro turno de debates, a plenária “Por uma Comunicação Negra e Feminista. Desafios e Perspectivas”, mediada pela jornalista Naiara Leite, trouxe Ivana Sena (Revista Quilombo), Alane Reis (Revista Afirmativa), Maiara Chaves (Mídia Periféria), Djamila Ribeiro, secretária de Direitos Humanos do Município de São Paulo, Monique Evelle (Desabafo Social) e Jéssica Ipólito (Gorda & Sapatão), como exemplos de narrativas de resistência na mídia. “Acredito no audiovisual e na comunicação como ferramenta de descolonização. Acho que a mídia negra é ativista, política porque a gente entende que as nossas pautas são negligenciadas e na mídia tradicional construímos nossas narrativas”, explica Alane.
Já para Djamila Ribeiro, escrever para um grande jornal lhe rendeu duras críticas de sua atuação no Movimento Negro. “Quando publiquei um artigo sobre a ultra sexualização da mulher negra eu fui duramente criticada como ‘vendida’. Mas é preciso que o branco leia, porque esse era o público do jornal, para eles perceberem o quanto são responsáveis pela manutenção do racismo”, declarou Djamila.
O Seminário “Mulheres Negras No Foco: Mídia, representação e Memória”, acontece nos dias 07 e 08, na Biblioteca Pública do Estado da Bahia, abrindo a extensa programação do Julho das Pretas, projeto do Odara- Instituto da Mulher Negra. Confira toda a programação do mês: http://institutoodara.org.br
Texto e fotos de Fabiana da Guia, especial para o Correio Nagô