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Lesbofobia: um dos desafios à visibilidade

 

No último dia 29 de agosto se comemorou o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. A luta pelo reconhecimento dessas mulheres passa pelas estatísticas nas pesquisas socioeconômicas, no tratamento no sistema de saúde e até mesmo nas atividades políticas GLBTT. Porém uma face ainda mais cruel também assusta e poucos têm conhecimento: a lesbofobia, o ódio ou aversão às mulheres que se relacionam com as mulheres.

Na cidade de Camaçari, região metropolitana de Salvador, um caso chamou atenção sobre até onde a aversão e ódio ao afeto podem chegar às homossexuais. No dia 24 de agosto, as jovens negras Laís Fernanda Pereira dos Santos, 24 anos, e Maiara Dias de Jesus, 22 anos, estavam felizes: moravam juntas, construíam planos, e isso foi o suficiente para serem assassinadas à tiros. O detalhe trágico-romântico do ato foi que o tiro tinha como endereço apenas uma das jovens, mas ambas se abraçaram e morreram juntas.

O caso endossou uma série de movimentações na Bahia no fim do mês. A presidente do Conselho do Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN), socióloga Vilma Reis, denuncia: “Há o silenciamento de um problema que tem afetado a vida das pessoas”. O alicerce para a impunidade, para ela, é o Congresso Nacional, reticente em criminalizar a homofobia: “Os caras sabem que podem matar, em nome de uma única sexualidade”. No caso do casal, somou-se o aspecto racial: “Estamos num estado em que as pessoas desenvolveram a situação de matar negros”, sentencia Reis.

A ativista da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL), Virgínia Nunes, foi uma das responsáveis em elaborar manifesto que circulou nas atividades na Bahia no fim do mês de agosto. Solicitando a aprovação do PL 122, e tomando como referência o casal, a carta ressaltou informações como as coletadas pelo Grupo Gay da Bahia: 109 lésbicas foram assassinadas de 1983 a 2012, uma média de 4,5 assassinatos por ano no estado. Porém, só em 2012 já foram 13 assassinatos.

Já Melissa Navarro, integrante do grupo Coturno de Vênus, antecipa os resultados de uma pesquisa no Distrito Federal que associou a lesbofobia a Lei Maria da Penha. Após entrevistas e questionários com mais de duas mil pessoas, chegou-se a conclusão que 94% conhece a Lei, porém quase a metade desconhece que também se aplicava às lésbicas, inclusive entre pessoas do sexo feminino, que na suma maioria desconhece que se aplicava à relações conjugais entre mulheres.

Melissa diz que o mais comum no dia a dia são os xingamentos às lésbicas, e que os estupros coletivos praticados por homens é uma prática rotineira e por vezes invisibilizada: “No sistema patriarcal, as pessoas que violam nossos direitos, acham que gostaríamos de ser homens. Temos que tomar cuidados básicos. Não frequentas ou demonstrar afetos em alguns lugares por serem perigosos. Mas temos que nos orgulhar de ser o que é”, conclui a ativista.

 

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