A imagem de uma tarefa sugerida em um livro didático infantil que já tem mais de 1,7 mil compartilhamentos no Facebook tem gerado protestos entre mulheres. A foto de Soraya Souza mostra o exercício de um livro didático sugerido à sobrinha em uma escola de Natal, no qual a criança deve distinguir quais atividades têm mais “afinidades” com meninas e com meninos.
Na tarefa, há duas ilustrações, de uma garota e de um garoto, e a criança deve ligar os pontos com as atividades que são inerentes a cada um. Entre as ações sugeridas estão “cuspir no chão”, “usar cabelo comprido”, “usar brinco”, “lavar louça” e “ajudar a arrumar a casa”.
A sobrinha de Soraya, segundo a tia, selecionou todas as atividades como “inerentes” tanto aos meninos como às meninas, menos “usar biquíni e sutiã” – de acordo com a garota, “porque eles não têm mamas grandes”. A professora não teceu qualquer comentário sobre a atividade, segundo a tia. “Minha irmã debateu com ela tópico por tópico, mas se horrorizou com o conteúdo e com a aceitação da escola. Que, na figura da professora, não atentou nem mesmo para o fato de a criança ter subvertido o ‘esperado’.”
Em sua página no Facebook, Soraya divulgou uma resposta que recebeu da Editora Positivo, que produziu o livro. “Esclarecemos que em nenhum momento a finalidade deste exercício é impor padrões ou corroborar com estereótipos de gênero. A atividade, vale mencionar, é parte de um contexto onde o objetivo é justamente promover o debate para combater relações autoritárias e questionar a rigidez dos padrões”, diz a editora. “O manual do professor, que acompanha todos os livros da coleção, contém orientações ao docente para conduzir essa atividade. Com o objetivo de evitar más interpretações, no início desta ano a Editora Positivo enviou às escolas conveniadas um adendo para esta atividade.”
Repercussão – Nas redes sociais, a discussão a respeito do livro indignou muitas mulheres. Iane Marie foi uma das pessoas que se manifestou sobre o assunto. “Se um dia eu tiver um filho homem vou dar educação de qualidade para ele em casa e vou evitar que qualquer escola ensine que ‘cuspir no chão’ é normal, tenha dó.” A ideia de que o exercício remete à construção de estereótipos machistas, indignou Sharon Baderna. “A palavra ‘afinidade’ entrega que o objetivo é reforçar estereótipo de gênero sim.”
Claudia Caparroz falou sobre a experiência que teve com o mesmo material didático. “Minha filha já utilizou o sistema Positivo em uma escola que estudou (era tão ruim que não ficou nem um ano inteiro), mas ao ver as atividades eu me espantava, pelo jeito, continuam ruins. Uma que lembro [atividade], e na época cheguei a mandar um e-mail ao editorial da apostila, sem resposta, eles pediam para a criança pintar o desenho da criança que mais parecia com ela, tinha uma menina loira, uma menina de cabelo preto, um menino de cabelo preto e um oriental. Fiquei indignada, não tinha uma criança negra, não tinha uma criança gorda, muito estereotipado.”
Fonte: Brasília em Pauta