“Nas religiões de matriz africana, é costume pedir licença aos ancestrais, a benção aos mais velhos muitas vezes representados pelas lideranças e trocar a benção com os mais jovens, antes de qualquer ato. Nesse sentido, a Fundação Cultural Palmares – MinC (FCP) pede licença para publicar um dos que virão a ser uma importante referência à população religiosa afro-brasileira, o livro Mulheres de Axé”.
Foi desta forma que a FCP lançou nesta quarta-feira (11), em Brasília, a obra organizada por Marcos Rezende, cujo principal objetivo é traduzir a importância de mulheres que são símbolo de autonomia e superação, e que também são herdeiras de um legado. São elas, a prova viva da resistência às adversidades impostas pelo regime escravocrata e pelo racismo que ainda perdura.
De acordo com Alexandro Reis, diretor do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da FCP, o livro é um reconhecimento importante à trajetória das mulheres do Candomblé da Bahia que são consideradas base fundamental da religiosidade, da cultura e da organização social das comunidades negras que vivem nos terreiros.
“Através das histórias de cada uma das personalidades retratadas no livro é possível notar o papel da mulher em sua capacidade de liderança, superação e generosidade”, disse. Segundo Reis, essas são características que mostram a importância delas também na constituição e construção de famílias com valores importantes a uma sociedade plural e democrática.
Elas no Axé – Mulheres que dedicaram e dedicam grande parte de suas vidas à luta contra a intolerância religiosa tiveram cada uma à sua época, grandes desafios impostos pela sociedade. Entre as personagens estão yalorixás do século XIX como Tia Massi, Mãe Pulchéria e Mãe Emiliana, bem como mães da contemporaneidade como Stella de Oxóssi, Jandira de Yansã e Gilda de Ogum.
A partir do livro é possível também conhecer as hierarquias dentro das Casas de Axé, um pouco mais sobre os rituais religiosos e os trabalhos sociais por elas promovidos. Para falar sobre o assunto, no lançamento do livro estarão presentes Mãe Railda, de Brasília, e Mãe Jaciara de Oxum, de Itapoan em Pernambuco.
Africanidades – Makota Zimewanga, ou makota Valdina, é outro importante nome na atualidade, pois é considerada patrimônio vivo das tradições e costumes africanos no Brasil. Militante do movimento negro, tem entre suas principais lutas o combate ao racismo a partir de suas referências religiosas. Graças a elas conquistou o respeito de muitas pessoas. “Lembro que na ascensão do movimento negro, muitos militantes negros marxistas diziam que a religião era o ópio do povo e tratavam nossa crença como folclore, coisa exótica. Hoje, encontro essa mesma gente, eles vêm me tomar a bênção. Vou dizer o que? Meu Pai abençoe, né?”, diz.
Também retratada no livro, a mais velha representante da tradicional família Sowzer, Mãe Irinea de Xangô, é um dos maiores símbolos de respeito aos ancestrais no país. Guardiã de conhecimentos e tradições, remonta a história familiar desde o tempo da fundação das primeiras Casas de Axé no Estado da Bahia. Mãe Irinea sempre reforça a prioridade de se manter viva a história dos Terreiros, do zelo com a religião e o respeito aos mais velhos.
Fonte: Fundação Palmares