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LUEDJI: “A gente existe e nossa religião precisa ser respeitada”

No último dia 20, a cantora e compositora Luedji Luna lançou o clipe do single “Banho de Folhas”, canção já conhecida do público e que, em apensas quatro dias, alcançou 14 mil visualizações no Youtube. 

Composta em parceria com a cantora e compositora Emillie Lapa, “Banho de Folhas”  narra as aventuras duas amigas procurando um babalorixá. Música e clipe  trazem a ancestralidade de um povo que foi proibido de exercer a religiosidade por muito tempo e, hoje, ainda em meio ao racismo, tenta se reconectar.

A gente existe e nossa religião precisa ser respeitada – Luedji Luna

Diante dos recentes ataques aos terreiros e candomblecistas, Luedji reforça que é cada vez mais urgente essa disputa de narrativas para que as pessoas conheçam e desconstruam seus preconceitos quanto às religiões de matriz africana.

“É um modo de dizer que estamos aí, sendo, cultuando, existindo. E pensamos na qualidade, o clipe é bem produzido, também como uma quebra do estereótipo de que tudo que é preto é pobre, é improvisado, não é assim”, destaca Luedji.

A música é uma boa forma de entrar em contato com possibilidades do corpo e da alma, não estimuladas pela correria do cotidiano e Luedji Luna traz em um potente trabalho artístico.

PASSOS QUE VÊM DE LONGE

Todo artista tem suas referências e com Luedji Luna não é diferente. No encerramento da 8ª edição do Festival A Cena Tá Preta, domingo (23), descobrimos que boa parte da construção de sua musicalidade vem do cantor baiano Cal Ribeiro, a quem ela se refere como tio. Quem esteve no Teatro Vila Velha viu com exclusividade “Cais e Sais”, um show intimista no qual Luedji cantou músicas já conhecidas do seu repertório e interpretou Cal Ribeiro, acompanhada no palco pelos músicos Francisco Cerqueira(bateria), Zinha Franco(baixo), Marlon Silva(violão) e Spike Bpl (guitarra).

Luedji Luna levou para o Teatro Vila Velha referências musicais de sua infância e adolescência, apresentando canções de Cal Ribeiro.

“Cal Ribeiro é amigo do meu pai, uma criatura que eu conheço desde a infância. Nos finais de semana eles se reuniam para fazer música e essa foi minha educação musical. Eu me lembro que eu ficava muito emocionada, chorava, e isso em um contexto de bebida, de festa, de fundo de quintal”,  rememora, emocionada, Luedji.

O cantor e compositor – que prestigiou o show da plateia por escolha, para melhor apreciar o momento – reluzente com a homenagem, ao final da apresentação, falou à equipe do Portal Correio Nagô. “Muito surpreendente! O interessante também foi não saber o que ela iria cantar e foi emocionante pra mim. Posso considerar que foi a primeira artista a me interpretar em show, em palco. Eu só tenho a agradecer, foi um presente grandioso. Ela teve uma interpretação magnífica em todas as canções que escolheu”, orgulha-se.

“Eu estou muito tranquila porque o Cal não é uma referência distante, é um tio que me viu pequena, me viu crescer, me viu fazer essa escolha profissional, foi um dos poucos apoiadores e em quem eu me influenciei quase que completamente – tanto tecnicamente como na essência para composição, ele versa muito sobre questões espirituais. Eu comecei a ter essa memória afetiva enquanto ouvia as músicas dele. Falei que iria gravar o Cal e ainda ia fazer um show cantando as canções dele”, conta Luedji.

CANTANDO AFETOS

O público costuma se emocionar bastante nas apresentações dela, e o show no Teatro Vila Velha foi um momento de transbordar. De transbordar afetividade, espiritualidade e de boas energias que vêm ascendendo na carreira da artista.

A professora Rosana Pereira veio de Feira de Santana assistir ao show. “O nome dela já diz, que é uma luz mesmo. E a Luna vem trabalhando com a profundidade necessária para se falar das religiões de matriz africana. Cada hora que ela cantava, cada gesto, que ela fala com o corpo e com a alma, eu me arrepiava, muito também por nossa ancestralidade”, relata Rosana.

UM CORPO QUE GANHA O MUNDO

 Na próxima sexta-feira (27), Luedji lançará o álbum Um corpo no mundo. Ontem (25) ocorreu audição do disco na Aparelha Luzia, em São Paulo.

Beatriz Almeida é repórter do Portal Correio Nagô.

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