“Estou diante de um momento extremamente importante para os rumos da França”. Foi esta a frase que o estudante do curso de História da Universidade Paris 1, Gaule Braibent, de 21 anos, disse quando encontrou a Marcha da Igualdade, na altura da Rua Ordener, em Paris.
As palavras, pronunciadas por Braibent em tom de euforia, foram dirigidas para os amigos ao lado dos quais ele seguiria em direção à Praça da República, local para aonde no último sábado (dia 07), por volta das 14h, uma multidão de 6 mil pessoas partiu com o objetivo de deixar marcado o aniversário da primeira Marcha da Igualdade, realizada na França há 30 anos.
O uso do substantivo “aniversário” no lugar do verbo “comemorar” está longe de ser uma simples escolha e traz consigo uma firme intenção política, conforme fez questão de explicitar a militante Fabiane Lauret, de 63 anos.
Ela participou da primeira edição da marcha e, convicta, explicou: “as promessas feitas no primeiro grande ato que organizamos contra o racismo, em 1983, não se cumpriram nem mesmo com a chegada do Partido Socialista ao poder, ano passado, por isso, não temos o que celebrar e estamos aqui, hoje, para mostrar que o primeiro grito de contestação dos imigrantes está completando 30 anos”, declarou.
Lauret é francesa, apresenta-se como antirracista, casou-se com um estrangeiro e considera inaceitável o olhar preconceituoso que a sociedade francesa costuma lançar para os descendentes de imigrantes nascidos na França, situação que é enfrentada costumeiramente pela jovem de 17 anos, Anissa Allali, filha de pai argeliano e mãe marroquina, e que se preparando para apanhar um megafone e espalhar suas palavras de ordem ao longo da caminhada, confessou: “já sofri ameaça num metrô”.
Catherine Chardin, de 56 anos, e Griss Nambi, de 71, também participantes da marcha no último sábado, tal como Lauret, já tinham abraçado como causa a luta contra o racismo, quando os jovens Anissa e Braibent nasceram, e todos eles, independente da idade, estavam andando, segundo Charbin, “para somarem forças diante de uma questão para a qual não se pode adormecer jamais”, alertou.
História
No mês de outubro de 1983, movido por uma conjuntura povoada de episódios complexos em torno da relação do Estado francês com imigrantes árabes, tendo sido o mais grave a morte de um adolescente de 13 anos, na cidade de Marseille, um grupo de 17 pessoas, para protestar contra este e outros atos de violência, partiu a pé de Marseille para Paris.
Quando a marcha chegou à capital francesa, no dia 3 de dezembro, depois de ter percorrido aproximadamente 700 quilômetros, atraído milhares de adeptos no caminho e acionado a partida de outros simpatizantes, que saíram das suas respectivas cidades para Paris, se constituía numa multidão de 100 mil manifestantes reivindicando, principalmente, a posse de um documento de permanência por dez anos e o direito a voto. Estas demandas permanecem até hoje na pauta da União Nacional dos Sem Papel (UNSP), maior representação dos estrangeiros em situação ilegal na França.
Confira galeria com outras fotos do protesto:
Texto: Sarah Carneiro
Fotos: Luciano Fogaça