*Por Anderson Sotero
Redação Correio Nagô* – Primeiro, ele enfrentou um time de cerca de dois mil candidatos. Conseguiu um lugar entre os 40 escolhidos. Por fim, a peneira não reteve o MC Mr. Armeng, 30 anos, que ficou entre os cinco selecionados que participariam do reality show musical do Canal Sony Spi, o programa Breakout Brasil.
Hoje, o MC baiano está na final do programa que vai ao ar na próxima quinta-feira (11). “A batalha pra chegar a final foi um processo de aprendizado, crescimento e amadurecimento do nosso som. Fomos passando pelas provas e mostrando aos jurados o nosso potencial”, avalia o artista independente do cenário musical baiano, em entrevista ao Portal Correio Nagô.
Ele conta que se surpreendeu quando foi selecionado para participar. “Vi a chamada do programa no Canal Sony Spin, logo fiz a inscrição e deixei rolar. Fiz uma pequena campanha no Facebook para receber votos. Fui pego de surpresa quando me vi entre os quarenta”.
Para o rapper, a repercussão foi ainda maior. “Fiquei mais surpreso ainda quando soube que, por meio de votação do público, estava entre as cinco bandas que participariam do programa”. O programa estreou no último dia 21 de março.
O convite do canal prometia “mudanças” nas carreiras dos candidatos. “O Sony Spin preparara uma oportunidade que realmente poderá mudar o rumo da sua carreira. Todos terão a chance de mostrar seu talento para o mundo, aumentar o número de fãs e quem sabe, ser o grande vencedor do programa e assinar um contrato com a Sony Music”, divulgou a produção do programa em sua página na internet no período das inscrições.
O “grande prêmio” consiste em um contrato de gravação de álbum com a Sony Music e um contrato artístico com Day 1, uma afiliada da Sony Music.
Emoção – Após o que o MC chamou de “turbilhão de emoções”, o próximo passo foi ir a São Paulo para as gravações. “O programa foi gravado, mas tem o mesmo espírito do ao vivo. O Breakout Brasil me mostrou que nem tudo na TV está perdido. Que existem situações reais nas quais o público pode confiar”, destaca.
Armeng afirma ainda que, quando soube que participaria do programa, estava com três shows marcados e trabalhava como assistente de câmera para uma produtora que cobre a agenda do prefeito de Salvador ACM Neto. “Estava com um ano de trabalho garantido nessa função com uma boa remuneração. Mas, assim que recebi a ligação da produção do Breakout Brasil, nem mesmo ponderei outras opções, afinal, minha primeira opção é a música. Fui atrás do meu objetivo maior”, emenda o MC.
Filho do cantor Guiguio do Ilê Aiyê e morador do bairro soteropolitano do Nordeste de Amaralina, Armeng foi fundador do estúdio FreedomSoulrec e é produtor musical conhecido entre os artistas como Magary – com quem gravou a música ‘D´Marrom’. Mas foi com as composições do pai que iniciou sua carreira.
“Me iniciei usando programas de gravação com as composições de meu pai ao mesmo tempo que comecei a tirar um som no violão. Por meio do mundo do skate, tive contato com as músicas de bandas como Legião Urbana, Cjbr, O Rappa e outras”, diz.
A aproximação maior, no entanto, foi com o mundo do Hip Hop. “Tive contato com o movimento Hip Hop do bairro onde eu moro e me identifiquei logo de cara, então direcionei composições que eu fazia para o rap e junto com amigos formei uma banda que não durou muito, pois os integrantes não tinham instrumentos, só eu tinha uma guitarra. Foi nesse tempo que descobri programas de produção musical no computador e comecei a fazer batidas de rap e escrever letras”.
Criação – Parte do nome artístico, Mr., vem do batismo, Maurício Souza. Já o Armeng se refere a uma analogia com a forma que ele começou a produzir no quarto da casa em que mora. “Sem estrutura, nem equipamentos profissionais, tive que dar um jeito de fazer a música acontecer, tive que armengar… Era um fio ali, outro aqui, e era um Armeng só”, conta.
Ele destaca ainda que a carreira começou “de mãos dadas” com a iniciativa de organizar os próprios eventos. “Dificuldades foram e são muitas até hoje, mas elas servem para nutrir a vontade de ser bem sucedido no que eu faço e acredito”.
Para conseguir shows e divulgar seu trabalho, Armeng relata que faz tudo por iniciativa própria. “Sou totalmente independente. Desde carregar caixas de som, instrumentos, divulgar, colar panfletos, procurar locais para tocar, aglutinar pessoas e encarar as barreiras com vontade de vencer e cabeça erguida. Ser independente é meter a mão na massa de verdade”, complementa.
Batalha – Já no programa, o MC disse que até agora não se teve que se adequar para satisfazer os jurados e sim construiu um processo de enriquecimento próprio. “Tenho minha personalidade e todos os passos que eu dei até hoje foram de acordo com o que trago comigo. Procurei ouvir as dicas e colocá-las em prática, mantendo a minha identidade, mas sem deixar que esta atrapalhasse o meu aprendizado e crescimento. Não se trata de adequação e sim de enriquecimento, sobretudo visto que gosto de desafios e explorar meu talento e conhecimento”, pondera.
Como maior influência, o rapper diz que é a música negra. Em casa, ele ouvia de Lazzo Matumbi a Bee Gees. “Principalmente a afro, o samba reggae, o “pagode das antigas”, a Black Music, Soul, Funk, Pop, Mpb e o Reggae”.
Para ele, ser um cantor negro de Rap em Salvador é “no mínimo conturbado”. “Ser negro, de periferia, carregar os sinais diacríticos e fenotípicos de minha ancestralidade e ainda fazer Rap é uma grande sobreposição de estigmas. E sobreviver a tudo isso é nadar contra a corrente”, avalia.
Numa terra em que predomina o Axé Music e o pagode, MC Armeng ressalta que, assim como vários estilos musicais que estão presentes na cena alternativa de Salvador, o rap vem crescendo e mostrando que tem qualidade e que também tem público. “Rap é resistência, assim com ser negro também é resistir e lutar diariamente pelo nosso espaço na sociedade”.
Participação – Mr. Armeng gravou uma música para a trilha sonora do documentário “Menino Joel”, sobre o garoto capoeirista Joel da Conceição Castro, assassinado pela polícia aos 10 anos, em 2010, no Nordeste de Amaralina. “Infelizmente teve que ser uma historia triste. Mas o convite do diretor Max Gaggino (que é responsável pelos meus 2 cliples) me deu a oportunidade de desabafar um pouco sobre a imagem que pintam do nosso bairro”.
Com frequência, o bairro onde mora aparece em veículos midiáticos associado quase sempre à violência. “Como um bairro periférico e esquecido pelas autoridades, tem suas problemáticas, mas também tem o lado positivo que é bem maior que o negativo, mas isso não vende jornal nem matéria de TV como a violência e os crimes. O Nordeste de Amaralina é um lugar de gente de bem e que precisa ser mais assistido e respeitado”.
Para o futuro, ele espera gravar o CD, filmar clipes das canções e fazer shows pelo Brasil. “Quero sempre estar mostrando meu som com qualidade, identidade e escrevendo o que o coração mandar. Trabalhar é o meu lema, sendo assim os frutos virão no momento certo”.
Confira o trabalho de Mr. Armeng: http://www.youtube.com/watch?v=q857zC1D__I