11/12/2018 | às 18h40
Nem a chuva fria que já molhava as ruas da Praça do Campo Grande, desde cedinho, foi o bastante para diminuir a animação do público que aguardava para acompanhar a IV Marcha do Empoderamento Crespo de Salvador. Neste ano, o tema da marcha foi “Feminismos e masculinidades: por uma agenda de emancipação crespa”, para trazer a importância de pautar os dois temas lado a lado.
Desde o seu surgimento, é comum que a Marcha do Empoderamento Crespo aconteça durante o mês de novembro, compondo a agenda do Novembro Negro. Entretanto, neste ano a manifestação aconteceu em dezembro. Ivy Guedes é uma das organizadoras da marcha e afirmou que o significado desta edição se diferencia pelo contexto político. “Nós estamos em marcha o ano todo, mas ela acontecer com toda essas adversidades mostra que temos força. Isso me deixa emocionada e a toda comissão, porque a gente entende que a marcha não está só nas nossas mãos e sim nas de todas as pessoas que querem ver esse projeto evoluir”, disse Ivy.
Como de costume, o evento teve uma concentração às 13h, com sarau de poesia e oficina de cartazes. Logo após, ocorreram as falas de personalidades importantes do movimento negro de Salvador, em que evidenciaram a importância de haver uma atividade como esta, que mobiliza jovens, adultos e crianças.
A ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia, Vilma Reis, chamou atenção para a urgência de se construir políticas com mulheres e homens lado a lado. “Não nos interessa masculinidades tóxicas! A gente conta com vocês para atravessarmos o ano de 2019, que será bastante complicado, com homens nem à frente e nem atrás das mulheres, mas ao lado”, ressaltou Vilma.
O professor Samuel Vida apontou que a existência da Marcha do Empoderamento Crespo, com diferentes personagens e intervenções, alarga as possibilidades de uma disputa por hegemonia numa sociedade racista. “A marcha mostra que o nosso corpo é uma plataforma política fundamental. Afirmar o cabelo, a estética, é afirmar a nossa possibilidade de existência”, finaliza.
A designer de moda e youtuber Carolina Carvalho, 21 anos, assumiu o cabelo crespo há cinco anos. “É muito importante uma marcha dessa em Salvador para que nós possamos nos reconhecer. Estou muito feliz em vim pela primeira vez!”, diz. Para ela, a marcha é um momento de evidenciar a beleza negra e construir um espaço de reconhecimento e pertencimento dessa população.
Os sorrisos e selfies marcaram presença durante o percurso até a Praça Castro Alves, onde a marcha se encerrou. Roupas estilosas, cabelos coloridos e muitas estampas era o que se via o tempo inteiro. As crianças crespas que acompanhavam, a todo momento se admiravam com os cabelos black power lilás, amarelo e rosa. A autoestima negra estava em pauta.
A caminhada seguiu num ritmo de sol e chuva, com intervenções artísticas, como a participação da dupla Visioonárias e da Banda Didá, que agitaram o público com músicas de blocos afros e autorais, fazendo o público cantar e dançar muito.
Ashley Malia é repórter-estagiária do Correio Nagô.
Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo.