Home » Blog » Cultura » MESTRE MÔA DO KATENDÊ RECEBE HOMENAGEM COLETIVA EM VIDEOCLIPE PRODUZIDO POR BLOCOS DE CARNAVAL DE RUA

MESTRE MÔA DO KATENDÊ RECEBE HOMENAGEM COLETIVA EM VIDEOCLIPE PRODUZIDO POR BLOCOS DE CARNAVAL DE RUA

Kaya na Gandaia, Unidos Venceremos e Amigos de Katendê se unem ao vocal de Mestre Gafanhoto para gravar hino em homenagem ao aniversário do capoeirista e militante assassinado em 2018

Em outubro Romualdo Rosário da Costa completaria 67 anos. Sua trajetória enquanto um dos maiores mestres de capoeira angola, do afoxé, da dança afro-brasileira e como militante dos fundamentos de raça, entretanto, foi interrompida em um brutal assassinato. Para eternizar Mestre Môa, como era conhecido, o homem que lutou por sua Bahia, pelo Brasil e por um mundo mais igual, seus amigos de caminhada lançaram o videoclipe da música ‘Viva Môa’. A composição, criada e dedicada em vida por seu companheiro de luta Mestre Gafanhoto, foi gravada por blocos de carnaval de São Paulo e está no recém-lançado álbum “Abrindo os Caminhos pro meu Carnaval”, do Kaya na Gandaia.

Moa do Katendê (foto: Isabella Rudge)

O videoclipe é um hino de homenagem coletiva dos blocos Unidos Venceremos, Kaya na Gandaia e Afoxé Amigos de Katendê, este último fundado pelo próprio Môa em parceria com Mestre Plínio. O clipe registra imagens e falas íntimas de Môa ao mesmo tempo que intercala a percussão potente do ijexá e o vocal confidente do Mestre Gafanhoto, que carrega versos líricos repletos de sentimento. Inspirada nos feitos do homenageado, a letra traça o percurso de Mestre Môa em sua proposta de manifestação e valorização da cultura afro-brasileira. O candomblé, o ijexá, a capoeira, o afoxé, todos os elementos se harmonizam e se somam ao coro vocal e ao arranjo que remetem à tradição e aos ensinamentos do Mestre: Elevação da alma por meio da música e da dança.

Considerado um dos maiores mestres de Capoeira Angola do Brasil, Môa foi muito além e por onde passou marcou pessoas e época com sua arte, seja como compositor, percussionista, artesão, educador, dançarino ou como incentivador do resgate das origens africanas nos blocos de carnaval da Bahia. Na década de 70, em plena ditadura, Mestre Môa foi fundador do Afoxé Badauê, movimento que nas palavras de Gilberto Gil ajudou a ressignificar e popularizar esse universo, adicionando a uma cultura tradicional e popular elementos de transgressão, como a participação de mulheres e brancos, cores às roupas e eletrificação da música. Como o próprio Môa escreveu, “Misteriosamente, o Badauê surgiu. Sua expressão cultural o povo aplaudiu.”

Foi reverenciado por grandes nomes da música nacional como o próprio Gil, Caetano Veloso, Moraes Moreira e Chico César, assim como da música internacional, como Roger Waters que prestou tributo a Môa durante show no Brasil. Preto, transgressor e batalhador, ao mesmo tempo que iluminava o caminho por onde passava, também incomodava. Em 2018 foi assassinado com 12 facadas pelas costas ao se posicionar politicamente. Mas o agressor não sabia que para quem marcou o compasso e deixou no ar sua melodia não existe morte.

scroll to top