03/12/2018 | às 22h19 | Atualização 04/12/2018 às 06h50
Formado pelos jovens Omin Onawalê, Deise Maria e Igi Emi, das comunidades de Federação e Engenho Velho de Brotas, o grupo Militância Poética leva a música e poesia como instrumento de transformação e autoestima. Em atividade desde 2015, o grupo se prepara para lançar seu próximo álbum “Reconstrução”, que busca fortalecer autoestima da população negra frente ao genocídio.
“O genocídio é uma espécie de água viva que tem diversos tentáculos. Nossa produção está atenta ao que acontece ao nosso redor”, afirma Omin Onawalê, em entrevista ao Portal Correio Nagô. Pensando na reconstrução subjetiva frente as marcas deixadas pelo genocídio da população negra, o terceiro álbum está sendo desenvolvido com vistas na autoestima.
“Bato sempre nessa tecla, só vejo aumentar o número de pretos com depressão e ansiedade, acredito que além de sermos resistência, também devemos ser reconstrução. É preciso ter coragem para meter as caras nessa sociedade, a autoestima é esse pilar”, destaca, Omin. O grupo acredita que para um contexto de subestimação, marginalização e esquecimento é preciso que haja reconstrução da subjetividade preta.
O trabalho em curso traz algumas participações como a de Nega Fya, que conquistou o segundo lugar na competição mundial Rio Poetry Slam Flup 2018 representando o Brasil. Deise Maria que até então atuava na produção do Militância Poética, terá mais presença neste álbum. “Neste álbum também Deise Maria assina algumas canções. Ela traz o diferencial que nossa limitação enquanto homens não conseguimos pensar”, ressalta Omin.
Semente nas Escolas
Além de batalhas de hip hop e slam, o grupo desenvolve um trabalho em que a música e a poesia são instrumentos de transformação da realidade dos espaços. “Já tivemos experiência de ir no Complexo Penitenciário Lemos de Brito e em escolas nos bairros, e a resposta é sempre positiva. Estamos querendo mostrar como a música é uma ferramenta da militância em prol da autoestima”, aponta o vocalista.
O Rap Militância Poética proporcionou que o interesse dos vocalistas chegasse às escolas públicas e privadas trazendo a música e a poesia para mudar os contextos de evasão e desinteresse escolar através do projeto “Semente nas Escolas”. Segundo Omin, a escola conserva modelos tradicionalistas de ensino que invalida e negligencia o cotidiano da juventude preta.
“Nas escolas a gente percebe que os alunos não estão interessados nos formatos cartesianos e eurocêntrico do ensino. Quando chegamos com nossa arte, fazemos roda de conversas, os alunos tanto do ensino fundamental como o ensino médio ficam hipnotizado, pois nosso trabalho toca eles”, descreve.
Segundo o vocalista a experiência positiva não é restritamente dos mais jovens. “Também tivemos a experiência com o pessoal do EJA, eles achavam que rap era coisa de marginal, no final de nossa conversa, tinha senhores e senhoras cantando um rap que eles produziram”, conta Omin. Além do lançamento do próximo álbum, em 2019, o grupo pretende estender o projeto nas escolas.
Militância Poética
Os integrantes do grupo já participavam de encontros de hip hop e slam desde 2015, mas só em 2016 lançou o EP “Revolução Além do Plano Matéria”, gravado pelo DJ Bandido. Em 2017, o Rap Militância Poética foi convidado pela Organização Reaja ou Será Morto Reaja ou Será Morta para fazer parte de uma coletânea que reunia diversos produtores culturais independentes.
Recentemente o Militância Poética lançou a mixtape “Reação”. “Tanto nosso primeiro trabalho como o “Reação” foram lançados no dia 2 de novembro. Trazemos como reflexão o genocídio da população preta e quantas famílias pretas são exterminadas nas diversas formas, seja nas esperas nas filas de hospitais, seja na educação de péssima qualidade”, afirma Omin.
Na próxima sexta-feira (7), às 18h, o grupo lança o clipe da música “Tudo É”, que faz parte do “Reação”. O clipe tem cenas gravadas no bairro de Engenho Velho de Brotas.