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Mostra Nova Dramaturgia Melanina Acentuada reúne dramaturgos negros brasileiros

Espetáculos, encontros, oficina, seminário e leituras dramáticas compõem a programação do evento que ocupará Espaço Cultural da Barroquinha

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Grace Passô em Vaga Carne. Foto de Lucas Ávila.

A dramaturgia produzida por autores negros e negras está no foco da cena em Salvador no período de 19 de julho a 14 de agosto na IV Edição da Nova Mostra Melanina Acentuada, no Espaço Cultural da Barroquinha, local ancestralmente significativo para a comunidade negra no Estado. Depois de passar por Rio de Janeiro e São Paulo, o evento retorna à Salvador e oferecerá uma programação que reunirá espetáculos teatrais, leituras dramáticas, seminário, bate-papo e oficina. O festival será aberto na terça-feira, dia 19 de julho, às 19h, com um relato de experiência da atriz Léa Garcia, sobre sua vivência no TEN – Teatro Experimental do Negro, grupo fundado e dirigido por Abdias do Nascimento, em 1944. O encontro será mediado pelo dramaturgo e idealizador da Mostra Nova Dramaturgia Melanina Acentuada, Aldri Anunciação.

Na oportunidade acontecerá também a vernissage da exposição Dramaturgos Negros Brasileiros, consiste numa exposição cronológica de fotos dos dramaturgos brasileiros ao longo dos séculos XIX, XX e XXI até a data de abertura da exposição. A convidada da noite de abertura, Léa Garcia tem uma trajetória emblemática na luta por conquista de espaço dos criadores negros nas artes cênicas. Nascida na cidade do Rio de Janeiro, é uma das grandes damas do teatro brasileiro. Aos 16 anos, pensava ser escritora e preparava-se para cursar a Faculdade de Filosofia quando conheceu o Teatro Experimental do Negro (TEN) e juntamente com outros jovens, ingressou na companhia liderada por Abdias do Nascimento. Em 1952, estreia como atriz no Teatro Recreio no espetáculo “Rapsódia Negra”, de Abdias do Nascimento, onde interpretava poesia de Castro Alves. No TEN atua em diversas produções. Paralelo aos palcos, atua também no cinema e na televisão. Teve grande destaque ao concorrer à Palma de Ouro de 1957, conquistando o segundo lugar no Festival de Cannes pela sua atuação como Serafina no filme “Orfeu Negro”, de Marcel Camus. Em 2004, foi vencedora do prêmio Kikito de melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado por “Filhas do Vento”, filme dirigido por Joel Zito Araújo. Na televisão também representou grandes papéis, sendo um dos mais famosos a personagem Rosa na novela “Escrava Isaura”. Recentemente estreou Dia de Jerusa, da cineasta baiana Viviane Ferreira.

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Isto Não É Uma Mulata. Foto: Andrea Magnoni

As montagens selecionadas trazem dramaturgia e encenações assinadas por criadores negros, revelando um panorama que aponta buscas estéticas e discussões levantadas. Compõem a programação as peças: Isto Não É Uma Mulata (BA), dramaturgia e encenação de Mônica Santana (no dia 22), Sete Ventos (RJ), dramaturgia e encenação de Débora Almeida (dia 23), O Campo de Batalha (BA), com texto de Aldri Anunciação e direção de Márcio Meirelles (dias 29 e 30), Se Deus fosse Preto (BA), direção e criação de Sérgio Laurentino, Vaga Carne (MG), da dramaturga e diretora Grace Passô (dias 05, 06 e 07 de agosto), Namíbia, Não!, com direção de Lázaro Ramos (dias 12, 13 e 14 de agosto) e O Circo de um Homem Só (BA), com concepção e atuação de João Lima. Os espetáculos serão apresentados sempre às 19h. Confira toda a programação: www.melaninaacentuada.com.br

Aldri Anunciação acredita que a presença de negros e negras ocupando a função criativa da dramaturgia é fundamental: “Contarmos a nossa história através de nossa própria escrita é uma urgência. Não somente para as sociedades negras, mas sobretudo para o melhoramento das relações humanas no mundo! Por isso a importância de estimularmos e divulgarmos cada vez mais os dramaturgos de melanina acentuada, que contam a suas verdades honestamente através de suas ficções”.

Dramaturgia NEGRA – A Mostra Nova Melanina Acentuada promoverá momentos de partilha de processos criativos com os autores, os chamados Encontros com Dramaturgos têm a função de provocar os dramaturgos a pensarem sobre o seu fazer e sua autoria, além de fomentarem um debate sobre o teatro negro pela via da estética, linguagem, forma, história e crítica e não apenas no viés da militância e de uma espetacularidade. Serão quatro momentos, sempre às quintas-feiras, às 19h: no dia 21 de julho, com Mônica Santana; 28 de julho, com Sérgio Laurentino; 04 de agosto, com Grace Passô e 11 de agosto, com João Lima.

Para a dramaturga Cristiane Sobral, eventos com ênfase na dramaturgia negra e na literatura negra são fundamentais para demarcar um território de existência e resistência diante do cânone europeu ainda predominante no teatro e na literatura.  “Desde a colonização no Brasil, muitos escreveram sobre o negro e para o negro. As vozes negras não foram convidadas, com raríssimas exceções, a apresentar o seu ponto de vista diante da história única”destaca a autora.

Leituras dramáticas  – Além de assistir espetáculos, o público vai poder conhecer textos inéditos nas leituras dramáticas, nas quartas-feiras, sempre às 19h. Abrindo o ciclo, no dia 20 de julho, A Mulher do Fundo do Mar, um texto inédito de Aldri Anunciação, que revela a história de uma mulher vive no fundo do mar em algum lugar entre África e Brasil. Não sabe se caiu de um bote de refugiados ou se caiu de um navio negreiro. No dia 27 de julho, o público conhecerá o primeiro texto dramático de Ana Maria Gonçalves, intitulado (Diversos). A dramaturga Cristiane Sobral apresentará o texto “Uma Boneca no Lixo”, um monólogo sobre as diferenças num país multicultural que desafia o mito da democracia racial brasileira. Encerrando o ciclo de leituras, uma nova obra de Anunciação, “Embarque Imediato”, num texto que narra o encontro de um jovem negro-brasileiro com um velho negro-africano, subitamente detidos em uma sala de imigração de aeroporto de um país não identificado.

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Se Deus Fosse Preto. Foto de Max Fonseca

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Sete Ventos . Foto: Zezzynho Andrade

Reflexão – O Nova Melanina Acentuada oferecerá momentos de reflexão intelectual, sobre a dramaturgia, bem como sobre questões ligadas à representação do negro e questões ligadas à arte contemporânea, nas quintas-feiras, a partir das 15h. O Seminário terá quatro momentos: no dia 28 de julho, o tema é As Influências Estéticas da Dramaturgia Negra no Brasil com a romancista Ana Maria Gonçalves , seguida pela Prof. Dra. Liv Sovik. Já no dia 04 de agosto, as contribuições serão sobre o Teatro nos países africanos de língua portuguesa, com a Profª. Dra Iris Amâncio (UFRRJ), a dramaturga Cristiane Sobral e a Ms.ª Fernanda Júlia (UFBA). Encerrando a programação de conferências, no dia 11 de agosto, os debates serão sobre Autoria feminina e suas (im)possiblidades de diálogo com o mercado editorial brasileiro! , com a Dra. Fernanda Felisberto (UFRRJ), A França e Josephine Baker: o exótico como marca com a Prof. Dr Jeferson Bacelar (UFBA) e Hubert Ogunde, Alarinjo e Não-tempo com Diego Pinheiro (Diretor).
Oficina – A Mostra Nova Melanina Acentuada promoverá uma Oficina de Escrita Dramatúrgica, ministrada por Aldri Anunciação, com carga horária de 12 horas. Voltada para jovens e escritores principiantes, a atividade vai apresentar exercícios práticos para produção criativa. Na oportunidade, serão compartilhadas estratégias e princípios de criação. São oferecidas 20 vagas e as inscrições podem ser realizadas pelo site: http://www.melaninaacentuada.com.br .
Melanina Acentuada – O projeto, que teve início em 2013 tem como proposta investigar a estética, a identidade, os temas e as produções do teatro negro contemporâneo, tendo como guia a escrita cênica e dramatúrgica assinada por artistas afro-brasileiros. Ao longo desses três anos de atividades, foi feita a catalogação de mais de 61 dramaturgos jovens e negros em atividade no país.

Serviço

Local: Espaço Cultural da Barroquinha

End: Praça Castro Alves,s/n | Barroquinha – Salvador – BA. Fone: (71) 3334.7350

De 19 de julho a 14 de agosto

Ingressos: R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia entrada para estudantes e idosos) a venda na bilheteria do teatro.

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