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Movimento Capoeira se mobiliza por esclarecimento sobre a “esportivização” da capoeira

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“Há uma certa inocência em acreditar que homem de Senzala será beneficiado por alguma coisa”, citação proferida por um capoeirista na primeira reunião do Movimento Capoeira, no dia 24 de fevereiro, na Sede do Afoxé Filhas de Gandhy, Pelourinho, Centro Histórico de Salvador. Um comentário de desânimo sobre os benefícios que a formalização do reconhecimento da capoeira e outras artes marciais como atividade esportiva pelo Conselho Nacional de Esporte (CNE), divulgada no início do mesmo mês passado. A decisão é a regulamentação inaugurada pelo Projeto de Lei da Câmara nº 31, em 2009.

Segundo a primeira impressão da determinação, mestres, lideranças e representantes de coletivos presentes no encontro, acreditam que há um teor nocivo ao ofício de mestres de Capoeira, reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), quando legitima o conhecimento acadêmico como detentores do saber. “Essa imposição do CNE não representa os interesses de grande maioria dos capoeiristas. Só para lembrar que a grande fatia do bolo, com essa resolução, vai ficar na mão das Federações e Confederações. E hoje apenas, 6% dos capoeiristas são filiados a organizações como essas”, queixa-se mestre Duda, representante da Escola de Capoeira e Militância Cultural e Rede Nacional de Ação Pela Capoeira.

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Logo mais, às 14h, a mobilização de coletivos se reúne, no mesmo local, – sede do Afoxé Filhas de Gandhy – para constituir um movimento forte contrário à resolução da “esportivização”. 
Embora reconheça a complexidade que envolve definir a capoeira como esporte, o parecer dado pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte sobre o projeto admite a interpretação de que  a resolução pode aparelhar uma atividade tradicional, transmitida de mestre a discípulo. No trecho: “à primeira vista, possa parecer que o reconhecimento da prática da capoeira a partir de seu aspecto esportivo caracterizaria um empobrecimento de suas ricas manifestações culturais, trata-se, na realidade, de uma forma de valorizar esse patrimônio cultural e destacar a importância dos profissionais que promovem sua divulgação”.

Em documento com cerca de 600 assinaturas, entidades e capoeiristas  convocam o  Ministro dos Esportes, George Hilton, a explicar a medida e as intenções do ministério em relação à religiosidade e à cultura afro-brasileira. “Sendo um teólogo atuante, o senhor deve estar a par da profunda religiosidade que permeia a cultura afro-brasileira e a capoeira. A espotivização da capoeira nega essa essência profundamente religiosa. A quem interessaria?”, dúvida explicita em trecho de carta.

Foto: Rosalvo Neto/Correio Nagô

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