Home » Blog » Cultura » Mulher negra e funk “proibidão” nas telas brasileiras

Mulher negra e funk “proibidão” nas telas brasileiras

A Fox Life Brasil exibirá, a partir de 25 de maio, sob o comando de Tati Quebra Barraco, “Luck Ladies”, reality show que vai preparar funkeiras para o mundo musical, além de mostrar o cotidiano delas. O programa, gravado em uma cobertura em Copacabana, Rio de Janeiro, terá como participantes as cariocas MC Sabrina, Mary Silvestre, Karol K, Mulher Filé e MC Carol, criadora do hit “Meu namorado é maior otário”. Para a mestra em Estudos de Gênero e Mulheres Carla Akotirene, Tati Quebra Barraco reúne aspectos que não são comumente evidenciados na mídia. “Ela não é magra, emerge de um território que é malvisto pelas pessoas e não é branca. É muito importante ter esse tipo de representação nos meios de comunicação”, pontua.

O funk proibidão, aquele que retrata o cotidiano das favelas, por algumas letras conterem xingamentos e conteúdos sexuais, recebe muitas críticas de movimentos da sociedade. Akotirene não acredita que o programa possa trazer problemas. “Há muito preconceito com o funk e com o pagode porque são contribuições artísticas advindas da comunidade negra. Todos os gêneros estão suscetíveis a produzir ruins e boas músicas. Temos que monitorar a programação, mas esta realidade [funk, vida da mulher negra da favela] tem que aparecer”, frisa.

NEGRAS PROTAGONISTAS – A jornalista Olívia Pilar fez uma lista de seriados assistidos por ela, que pode ser encontrada no texto “As mulheres negras em séries de TV ou a falta delas”, para verificar o número de mulheres negras que aparecem como protagonistas.  “A verdade é que foi muito triste constatar que várias séries que eu amo não têm nenhuma personagem negra fixa”, disse. Para exemplificar o seu discurso, Olívia utilizou “Sexo e as Negas”, minissérie da Rede Globo, exibida no ano passado. Segundo ela, o programa não narra a história das mulheres negras sob a ótica de vida delas. “As quatro mulheres negras não são sequer protagonistas e donas de sua própria história em um seriado que, teoricamente, carrega indícios de que deveriam ser para ela”, pontua.

Sexo e as Negas, do diretor Miguel Falabella, gerou muita polêmica e foi acusada de propagar mensagens racistas. Na época, denúncias contra a série foram feitas à Secretária de Promoção da Igualdade Racial do Governo Federal (Seppir). Bia Cardoso, em texto escrito para as Blogueiras Feministas, afirma que o programa reforça os estereótipos de mulheres negras, como o de que “mulheres negras estão sempre prontas para fazer sexo”. Carla Akotirene diz que o programa, realmente, tinha uma abordagem sobre a sexualidade, mas afirma que também existem mulheres daquele tipo. “Existem várias identidades de mulheres, inclusive, aquelas que foram representas. O problema é evidenciar estas histórias como determinantes, o que, segundo ela, aconteceu na série. As mulheres representadas na série existem e merecem respeito”, destaca.

Milena Machado, especialista em Políticas Públicas em Gênero e Raça e mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, observa que a mulher negra é minoria no espaço midiático. “No geral, quando essa minoria aparece, ela é representada por estereótipos, exercendo papéis de profissionais ligados aos cuidados domésticos e subservientes. A reprodução do branqueamento da mídia é perversa e violenta”, destaca.

scroll to top