O Partido dos Trabalhadores foi o mais votado nas eleições municipais de 2012 e, junto com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), forma a dupla de siglas com melhor desempenho em relação à última eleição, em 2008. O resultado da votação no último domingo (7) também demonstra uma queda na preferência dos eleitores por candidaturas de notória oposição ao governo federal, representadas por PSDB e DEM. Por outro lado, ex-democratas alçaram o novo PSD para a quarta posição nas forças políticas do país, com a eleição de 474 prefeitos. Entre os aspectos mais simbólicos estão as eleições do primeiro prefeito do PSOL, no interior do Rio de Janeiro, a eleição de 10% das candidaturas LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) apresentadas e o número recorde de mulheres prefeitas. Em relação às disputas pelo Executivo das grandes capitais, o fato mais emblemático foi o resultado das urnas ter levado José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) para o segundo turno, deixando o favorito das pesquisas eleitorais Celso Russomanno (PRB) de fora do pleito.
O Brasil tem mais de 138,5 milhões de eleitores e teve mais de 22,7 milhões que não votaram nestas eleições. A abstenção foi de 16,4%, contra 14,5% em 2008. O Maranhão foi o Estado onde houve maior número de abstenções, 19,5%. Entre os que foram às urnas, boa parte optou por eleger mulheres para o comando dos municípios. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, foram eleitas 663 mulheres este ano, o que significa 31,5% de aumento em relação ao último pleito e um recorde brasileiro. Na divisão por Estado, Minas Gerais é onde mais mulheres foram eleitas: 71 cidades, ou seja, 8% do estado. Porém, é na Paraíba onde a participação das mulheres é mais representativa. Em cada dez prefeitos eleitos, dois são do sexo feminino. Já o Rio Grande do Sul é onde menos mulheres foram eleitas, com apenas 7% dos 495 prefeitos eleitos.
“É uma demonstração de que o machismo vem sendo rompido na política, à exceção dos gaúchos, que seguem a tradição de serem bastante preconceituosos com as mulheres”, analisa o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer. Neste sentido, ele elogia a dissidência da senadora Ana Amélia Lemos (PP) que apoiou a candidatura derrotada de Manuela D’Ávila (PCdoB) e não ficou ao lado do reeleito prefeito José Fortunati (PDT). “Ela disse não ao partido conservador para estar com a candidata que, além de mulher, considerou preparada e moderna. Foi bem interessante isso”, fala.
O PSB foi, entre os grandes partidos, o que mais cresceu nestas eleições municipais. O partido comandado pelo governador Eduardo Campos (Pernambuco) elegeu 100 prefeitos a mais dos que já tinha em 2008. É o maior crescimento absoluto e proporcional entre todos os partidos. O PSB ganhou mais no Nordeste e em Minas Gerais. Além do PSB, só o PT elevou seu número de prefeitos eleitos em relação à ultima eleição: 76 a mais. As novas prefeituras foram conquistadas principalmente no Rio Grande do Sul, no Paraná, em Santa Catarina, no Ceará e na Bahia.
“O PT cresceu de 550 para 626 prefeituras, mas não teve um crescimento tão chamativo como vinha tendo nas últimas eleições. É um crescimento em um ritmo diferente. Pode ter sofrido a influência da transferência de votos em ex-petistas, como o ocorrido em Porto Alegre e no noroeste do Rio de Janeiro. Fortunati é um petista disfarçado de PDT e Gelsimar Gonzaga um antigo petista que virou PSOL. O PSOL foi criado pela dissidência do PT”, lembra Fleischer.
Já o analista político paulista Alberto Carlos Almeida considera forte o crescimento do PT, pela expressiva votação e crescimento gradual nos últimos anos. “O PT parte do zero e tem hoje 12% das prefeituras do país. É o decorrer do tempo que faz este crescimento, porque dificilmente temos uma grande mudança no cenário eleitoral municipal de uma eleição para outra”, avalia.
Do outro lado, Almeida considera que o crescimento do PSB é um fato importante que resulta das eleições de 2012. “O partido do governador Eduardo Campos ganhou em cidades importantes como Recife, que era reduto do PT, e também em Belo Horizonte. Isso aumenta o capital político do Eduardo Campos, o que não significa que ele será candidato natural. Até lá tem muita coisa poderá acontecer, mas esta eleição aumentou seu poder de barganha”, acredita.
Mensalão não refletiu nas urnas
Sobre o efeito do julgamento da Ação Penal 470, o chamado mensalão, ambos foram convergentes para a posição de que não é possível mensurar reflexo deste processo nos votos dos eleitores municipais. “Aparentemente não teve influência. Há opiniões diversas sobre isso entre os especialistas. Gosto de me basear na pesquisa feita pela Datafolha antes da eleição que dizia que os eleitores paulistas não votariam no Haddad por causa do Mensalão. Vai ver que 29% mudaram de ideia até o dia da votação”, ironiza Fleisher.
Já Alberto Almeida diz que o assunto interessa apenas àqueles que acompanham política. “As pesquisas qualitativas mostram que os eleitores municipais não acompanham este julgamento. O mensalão só reforçou os antipetistas que já não iriam votar no PT, que se sentiram fazendo a coisa certa”, diz o analista político.
Além de ultrapassar o PMDB em número de votos, o PT protagonizou o fato mais emblemático das eleições, na opinião de Almeida. “As eleições de São Paulo terem ido para o segundo turno e a ampla vantagem que Haddad já tem, segundo a mais recente pesquisa, são fatos interessantes. Esta disputa ainda reúne forças de apoio e é uma das mais importantes prefeituras para reflexo nas futuras composições nacionais”, projeta.
Se o mensalão não teve tanto efeito, o esquema envolvendo políticos e o bicheiro Carlinhos Cachoeira derrubou por água baixo o sonho de alguns candidatos, como o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT) e auxiliou outros como o reeleito prefeito em Goiânia Paulo Garcia (PT). “A sua reeleição o fortalece para ser candidato a governador em 2014, já que o adversário e atual governador Marconi Perillo (PSDB) está enfraquecido com a relação com Cachoeira”, avalia David Fleisher que também cita a Lei da Ficha da Limpa que colocou mais de 3 mil candidatos sub judice.
PSD se torna quarta força política no país
Apesar da péssima avaliação do governo do prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, o partido criado por ele e outros ex-democratas também sai maior desta eleição. Como foi criada no ano passado, a sigla não disputou a eleição de 2008, mas puxou para si 272 prefeitos do DEM. O PSD saiu das urnas com 474 prefeitos e tornou-se a quarta força municipal, atrás apenas de PMDB, PSDB e PT.
“O racha entre o DEM e PSD fortaleceu um e diminui ainda mais o outro. O partido é novo, mas organizado por políticos muito experientes. E o DEM estava em declínio desde 2004. Ele agora deverá ser incorporado pelo PSDB ou PMDB”, acredita o cientista político David Fleisher. “Se tornou um partido pequeno”, define o analista Alberto Almeida.
Uma das lideranças do DEM, o deputado federal Onyx Lorenzoni disse que o fator eleição municipal não irá matar a legenda. “Perdemos 1/3 dos quadros da nossa estrutura partidária nacional, mas elegemos 3.251 vereadores. Em 2014 vamos conseguir reeleger a mesma bancada parlamentar estadual/federal e recolocaremos o partido como quinta bancada. Vamos melhor nossa comunicação e aprofundar nossas bandeiras”, fala.
Segundo ele, esta eleição foi o primeiro teste pós-racha, mas não teve um desfecho ameaçador. “Tivemos pouco tempo para nos recuperar com as quebras da fidelidade partidária. Nós sofremos um golpe sem tempo de recuperação, mas suportamos. O ACM Neto está disputando em Salvador. A eleição dele poderá ser o começo da virada do DEM. Perdemos o nordeste para o PT, mas em Aracajú nós vencemos. Quem achou que tinha nos matado, não perde por esperar em 2014”, dispara.
O PMDB ainda tem a maior base municipal, mas encolheu. O partido elegeu quase 200 prefeitos a menos do que em 2008. O PMDB perdeu prefeituras na grande maioria dos Estados, mas cresceu em São Paulo, de 69 para 85 prefeitos eleitos. O PSDB também sai menor das urnas, em comparação ao resultado de 2008. Os tucanos elegeram 681 prefeitos, contra os 787 que haviam eleito quatro anos atrás. Algumas das maiores perdas foram nos principais Estados que o partido governa: São Paulo (menos 34 prefeituras) e Minas Gerais (menos 17). Porém, o PSDB perdeu mais no Ceará: 46 prefeituras a menos do que em 2008.
PSOL elegeu seu primeiro prefeito
Grande parte dos partidos nanicos ampliou sua base municipal: o PSC ganhou 21 prefeitos; o PRB ganhou 19; o PV, 15; o PRP, 7; o PSL, 7; o PRTB, 5; o PTC, 3; o PHS, 2 e o PSDC e PSOL conseguiram eleger os primeiros prefeitos. O PSTU voltou a ter cadeiras em legislativos, elegendo representantes em Belém e Natal.
Ex-cortador de cana e presidente há 18 anos do Sindicato dos Servidores Públicos de Itaocara, Gelsimar Gonzaga, além de ser o primeiro prefeito eleito pelo PSOL no Brasil, derrotou a hegemonia do PMDB no município de 23 mil habitantes no noroeste do Estado do Rio de Janeiro. Gonzaga, de 48 anos, recebeu 6.796 votos sem coligação com outro partido e foi eleito com 44,26% dos votos válidos, superando candidatos do PMDB (31,94%), do PR (11,53%), do PP (9,82%) e do PT (2,45%). Nem a direção nacional do PSOL acreditava em uma vitória na pequena cidade do interior.
Devido a dimensão de 5.564 prefeituras no país, o analista Alberto Almeida considera o fato simbólico, mas sem aumento de poder político para a sigla. Já o professor David Fleisher acredita que o próprio desempenho do deputado estadual Marcelo Freixo no Rio de Janeiro foi importante para afirmação do partido. “Tem ainda o candidato em Belém que disputa o segundo turno e com a eleição do Freixo, o PSOL tirou votos do PT no RJ, mas não foi algo como PSD e DEM”, compara.
Candidaturas LGBT tiveram 10% de sucesso
Entre as 155 candidaturas de representantes assumidamente homossexuais, cerca de 10% foram eleitas no país. Foram eleitos gays, lésbicas, transexuais e travestis para vereadores em diversas cidades brasileiras. Os campos da esquerda, com destaque para PT e PSB, foram os partidos que mais apresentaram candidatos coloridos. “Foi o previsto. Agora vamos nos fortalecer e organizar para eleger mais deputados estaduais e federais. Ainda precisamos formar melhor politicamente os nossos quadros e ter igualdade de condições financeiras na disputa. Empresas privadas não apoiam LGBTs, precisamos do financiamento público de campanha”, conta o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Alves.
Um aspecto positivo do pleito, segundo ele, foi o maior número de candidaturas assumidamente homossexuais. “Sempre concorremos, mas agora foi de forma assumida. A visibilidade é uma arma importante contra a intolerância e o preconceito. Os fundamentalistas, por outro lado, conseguem eleger os seus candidatos porque têm o instrumento das igrejas por trás, como o José Serra que tem apoio do nosso principal algoz José Serra (PSDB)”, alerta.
Por: Rachel Duarte, do Sul21
Fonte: Rede Brasil Atual