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Música e fantasia no show de Carlinhos Brown

Sinto a batucada se aproximar e a mágica dança e irradia o coração de Antônio Carlos Brown, um popular brasileiro

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No mês de outubro, o Teatro Castro Alves, em Salvador foi abrilhantado por um dos artistas baianos mais criativos, atuantes e inovadores no cenário da música brasileira: Carlinhos Brown. Conhecido também como o ‘Cacique do Candeal’, Brown se destaca como cantor, músico, produtor, arranjador e agitador cultural. Depois de passar por cidades como São Paulo, Recife e Natal, levando sua mini turnê, o artista desembarcou em Salvador com o seu mais novo show ‘Antônio Carlos Brown – Um popular brasileiro’. E eu fui conferir a convite do portal Correio Nagô.

Para a ocasião, Brown trouxe um repertório recheado que reúne canções do seu primeiro álbum, ‘Alfagamabetizado’, do premiado ‘Tribalistas’, algumas composições de sucesso gravados ao longo dos mais de 37 anos de carreira do artista até as novas canções do disco recém lançado ‘Artefireaccua – Incinerando o Inferno’.

No palco, Brown se mostra polivalente. Não é apenas cantor, ele é o maestro regente, o malabarista dos instrumentos, o bailarino, o poeta, aquele que canta, encanta, “joga as armas pra lá” e convida o público a fazer a festa.

O show tem concepção geral e direção de Paulo Borges, que buscou utilizar um cenário especial, desenhos de luz e projeções primorosas que foram utilizadas durante todo espetáculo. Paulo fez uso de toda estrutura tecnológica disponível no TCA, buscando demonstrar intimidade e alma ao realizar essa experiência inovadora e emocionante. A apresentação conta também com João Pimenta, estilista responsável pelos figurinos, Ricardo dos Anjos na criação da beleza, Davi Ramos, que desenvolveu o adereço especial para a cabeça de Carlinhos (item marcante na figura do artista), Miro na criação fotográfica e ensaio para divulgação, Richard Luiz na direção dos vídeos exibidos durante o espetáculo.

Graças aos recursos tecnológicos, em alguns momentos parecia que a banda estava saindo de dentro do fogo, em um efeito cênico de labaredas. O primeiro figurino do artista foi um terno preto de maestro e, como tal, tudo ocorreu de acordo com sua regência. Ao seu comando, as projeções mudavam, a banda sumia, reaparecia como um toque mágico e bastante sútil que encantou bastante o público. No segundo momento Brown abandona o terno, canta e baila tranquilamente com seu turbante e seus óculos escuros que já são suas marcas registradas.

Houve uma interessante intervenção artística durante o show, quando Brown interpretou uma espécie de homem lata: primeiramente contracenou com as latas, produzindo som como se elas fossem instrumentos, e depois se misturou às latas.
O público reagiu de diversas formas: houve quem parasse e observasse, houve quem não entendesse e risse e houve aqueles, como eu, que pararam para refletir sobre a “sociedade dos embutidos”, o quanto estamos presos em nossas gaiolas e bolhas.

O show também explorou vídeos com imagens de paisagens e áudio-poesia, um com a voz de Chico Buarque e a música Dois Grudados, e o outro com a voz de Arnaldo Antunes, fazendo o público ir ao delírio e desvendar esse lado romântico e poético de Brown, até então desconhecido por muitos.

Em um dos momentos do show, Brown fez uma fala sobre o respeito às diferenças sexuais e cantou uma de suas canções de grande sucesso “A namorada”. Também não faltaram referências à religiosidade, como no figurino de uma espécie de saia de orixá, e um batão preto e peruca branca, fazendo uma referência ao orixá Obaluaê, além da cesta de pipocas utilizadas para finalizar o show, jogando-as como se fossem flores e banhando o público com as mesmas.

O show de Brown foi espetacular. A banda como sempre muito afinada, os efeitos de som, luz, imagem utilizaram de todos os recursos tecnológicos presentes no teatro, fazendo as projeções parecerem uma fantasia. É como se fosse um sonho onde o público só desejasse que tivesse continuidade para desfrutar de toda beleza e todo encanto presente naquele ambiente. O show foi um verdadeiro retrato de um popular brasileiro, que é canto, é encanto, é magia pairando no ar, reverberando contagiando o outro.

Anaildes Negreiros é relações públicas, poeta, produtora cultural e arte educadora, integrante do Coletivo Resistência Poética

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