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Negra sim: não ao embranquecimento da mulher negra na mídia

28 de novembro / 15h50

Negra sim! Este foi o tema da participação da atriz Camila Pitanga na edição de novembro do projeto Mulher com a Palavra. Com abertura para discutir a questão do colorismo, Camila Pitanga passa por várias temáticas negras e enfatiza que se dizer negra é muito mais do que uma afirmação identitária, “é uma afirmação política”, diz.

Foto: Edson Ruiz / SPM

O evento aconteceu no dia 23 de novembro e fez parte da programação do Novembro Negro. Assim como todas as edições, que são mensais, aconteceu na Sala Principal do Teatro Castro Alves. Com mediação de Vânia Dias, a jornalista já iniciou sua participação citando uma famosa frase de Angela Davis quando esteve no Brasil: “Quando a vida das mulheres negras importar, o mundo será transformado e saberemos, com certeza, que todas as vidas importam”.

Com grande diversidade nas temáticas abordadas, foi difícil ficar em um só tema. Camila Pitanga falou sobre colorismo e sobre o embranquecimento na mídia por conta de sua pele mais clara. O famoso caso de assédio nos bastidores da Globo, sofrido pela figurinista Su Tonani, que denunciou o ator José Mayer, causando grande repercussão na mídia e diversos debates na internet. Camila se mostrou totalmente contra o acontecimento e contou como as mulheres se articularam dentro da emissora para que alguma medida contra o ator fosse tomada.

A atriz falava com carinho sobre o seu pai, o ator Antonio Pitanga, que estava na plateia. Ela contou ao público muito de sua carreira, como iniciou e os caminhos até chegar lá, ressaltando que muitas dessas conquistas vieram a partir do pai, pois, sendo filha de um ator, ela já transitava pelo meio artístico constantemente.

Embaixadora nacional da ONU Mulheres, Camila Pitanga às vezes se mostrava insegura no palco com relação aos assuntos que iria abordar, não sabendo muito bem de que forma iria colocar em palavras o que queria dizer. Mas revelou que se encontra com Djamila Ribeiro e Marcia Tiburi para discutir questões ligadas à gênero e raça com a intenção de aumentar o seu repertório. Apesar disso, a atriz mostra um posicionamento político muito forte e deixa clara a sua ligação com o feminismo negro. Bem carismática com o público, interagindo bastante e se dirigindo à plateia constantemente, ela conta que esteve presente na primeira Marcha da Mulher Negra, em 1995.

Ao falar de juventude negra, Camila se emociona ao falar da filha Antonia, que tem 9 anos atualmente. Ela conta que a filha começou a usar tranças recentemente e o quanto fica impressionada com a força da menina ao valorizar a estética negra e não se importar com o que os outros irão dizer. Falando sobre a Marcha do Empoderamento Crespo, que aconteceu há poucos dias, Camila Pitanga diz que gostaria muito de participar. “Eu acredito na força da juventude”, completa.

Camila Pitanga tem uma forte participação em redes sociais como o Twitter e é por lá que ela se comunica com o seu público. Há quem não tenha noção desse seu forte posicionamento político e até mesmo de sua negritude. O cuidado que a atriz teve ao se posicionar, ao se afirmar “Negra sim”, demonstra o quanto as mídias vivem embranquecendo-a. A edição do Novembro Negro do projeto Mulher com a Palavra explicitou a importância da reafirmação identitária e trazer Camila Pitanga discutindo questões feministas e negras foi importante para melhor conduzir esta interseccionalidade dentro do feminismo.

 

Ashley Malia é repórter do Portal Correio Nagô

Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo

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