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Negros dominam o empreendedorismo no Brasil, mas situação ainda é difícil

Segundo dados do Sebrae, no Brasil, negros representam maioria no setor empreendedor. Entre 2002 e 2012, 50% dos micro e pequenos empresários se autodeclaram negros ou pardos, 49% se autoafirmaram brancos. É a primeira vez que o número de empreendedores afrodescendentes superou o de brancos. Em entrevista ao Portal Correio Nagô, o economista Hélio Santos, autor do livro “Em busca de um caminho para o Brasil”, não se surpreende com os indicadores. Para ele, a situação correspondente ao aumento de empreendedores negros é resultado da “precarização do trabalho” e do crescimento de camelôs no país. “Onde há precarização do trabalho, há empreendedores negros”, afirma.

Empreendendo em setores de menor lucratividade, como agrícola, ambulantes e cabeleireiros, os negros acumulam renda menor do que a dos empresários não negros. O rendimento do empresário branco, que domina o setor de máquinas e serviços de saúde, é 112% a mais do que o do negro. A ex-ministra da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Matilde Ribeiro, que exerceu mandato na gestão do presidente Lula, afirma que “os indicadores do mercado de trabalho revelam que o empreendedorismo para a população negra surge e se mantém a partir das necessidades cotidianas, tendo em vista o racismo institucional muito presente no mundo do trabalho”, conclui.

A empresária negra Mônica Tavares, proprietária da Mei Bahia, empresa baiana que presta serviço de consultoria em negócios, revela para o Correio Nagô que decidiu entrar no empreendedorismo por conta da falta de oportunidade no mercado de trabalho. Graduada em Administração, Mônica diz que a Mei Bahia hoje está numa fase considerada estável, mas fala que, por conta da falta de financiamento, foi muito difícil começar a empreender. “Eu posso afirmar que os meus clientes, que são, em sua grande maioria, negros, passam pelas mesmas dificuldades que eu passei. Eu acredito que superei os problemas por ter continuado a estudar”, explica.

De acordo com os dados, 41% dos negros e pardos que exercem a atividade empreendedora estão no Nordeste, região em que o afroempreendedorismo predomina. O presidente do Sebrae, Luiz Barreto, afirma que o avanço de pessoas negras como empresárias indica que as políticas sociais realizadas para este grupo tem se mostrado eficazes e pontua também a criação da figura jurídica do Microempreendedor Individual (MEI) como um fator importante para a atual realidade dos empreendedores negros.

O estudo realizado pelo Sebrae mostrou que os afroempreendedores aumentaram o seu rendimento mensal e o nível de escolaridade. Entre 2002 e 2012, houve uma ampliação no tempo de anos de estudos entre as pessoas negras, passando de 4,7 para 6,5 anos. A renda dos empreendedores negros cresceu de R$ 786 reais para R$ 1.138. Luiz Barreto acredita que o tempo de estudo é um fator importante para a melhoria de vida dos empreendedores afrodescendentes.

economista Helio SantosFinanciamento e Qualificação

           Doutor em Economia, o professor Hélio Santos afirma que é preciso criar estruturas de financiamento e habilitação para que o grupo afroempreendedor possa superar certas dificuldades e alcançar os grandes setores empresariais. Ele pontua que é necessário apresentar esses dados do Sebrae a certas secretarias governamentais, como a Seppir, para que o Estado pense em políticas públicas para o desenvolvimento do afroempreendedorismo no Brasil.

Com o objetivo de incentivar o empreendedorismo negro no campo cultural, o Instituto Mídia Étnica, em parceria com o Fundo Baobá, abriu vagas para curso gratuito de produção cultural para jovens empreendedores populares. Os selecionados terão acesso a conteúdos na área de empreendedorismo, diversidade e sustentabilidade.

Segundo a coordenadora do projeto, a comunicóloga Ilka Danusa, a formação tem como objetivo colaborar no desenvolvimento dos jovens empreendedores. “Nossa intenção é oferecer uma formação por meio de aulas expositivas, palestras, debates, visitas técnicas e eventos com a participação de profissionais e empreendedores dos segmentos”, explica Ilka Danusa. “O projeto também pretende estimular a liderança, a tomada de decisão, a geração de renda e atitudes sustentáveis”, completa.

Jovem Empreendedor Cultural-01

 

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