Estudo realizado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e pelo Dieese revelou que os negros ganharam mais espaço no mercado de trabalho entre os anos de 2002 e 2011 – embora continuem em posição de desigualdade. O coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian, explica que apesar de o crescimento econômico – e o consequente aumento na geração de empregos – da última década ter beneficiado todos os trabalhadores, os negros usufruíram mais destas melhorias. “Os negros aumentaram sua participação nos serviços, que é um segmento que oferece melhores empregos, carteira assinada, rendimentos maiores e acesso à direitos trabalhistas”, afirma.
No período, as taxas de desemprego diminuíram entre negros e não negros, mas a diminuição relativa ao primeiro segmento foi maior. Entre os negros, a taxa é de 12,2%; entre os não negros, de 9,6%. Essa diferença, de 2,6 pontos porcentuais, era de 7,2 pontos porcentuais em 2002.
Em relação à ocupação no mercado, os negros ainda são minoria nos setores melhor remunerados e que exigem melhor qualificação, como serviços, indústria e comércio. Porém, nestes dez anos, houve um crescimento mais significativo nas áreas de serviços e construção civil. Em 2002, 43% dos negros estavam ocupados em serviços. Em 2001, o número subiu para 48,8%. Houve um aumento de mais de cinco pontos porcentuais. Já entre os não negros, 52,8% estava ocupado neste setor em 2002, e em 2011 a taxa era de 54,6%. O crescimento foi de apenas 1,8 ponto porcentual.
Os serviços domésticos ainda são ocupados majoritariamente por mulheres negras, mas o índice caiu de 13,9% para 10,1%.
Loloian lembra que só o crescimento econômico não é capaz de produzir, por si só, melhoras significativas na inserção do negro no mercado de trabalho, de maneira a equilibrar o quadro. Para ele, é preciso investir cada vez mais em educação e qualificação. “A educação de qualidade é sim um diferencial para a inserção das pessoas, para que as posições sejam iguais. A grande questão é essa, é a desigualdade de oportunidades”.
Para ele, o Brasil vive um processo de diminuição das desigualdades, com mudanças lentas. “Nos encontramos num processo de transição, onde aquela extrema desigualdade de oportunidade tem se reduzido. Isso poderia ter só sido feito com o desenvolvimento da economia? Sim, mas levaria gerações e gerações.”
Ele ainda afirma que iniciativas públicas de inclusão na educação têm o potencial de fazer com que o mercado seja menos desigual. “O Programa Universidade para Todos (ProUni) e, agora, com a entrada da lei de cotas para as universidades federais, são importantes no processo. Se há um lugar que o Estado tem de intervir é na escolaridade de sua população.”
Fonte: Rede Brasil Atual