Home » Blog » Direitos Humanos » No Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas destacamos suas vulnerabilidades na Pandemia da Covid-19

No Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas destacamos suas vulnerabilidades na Pandemia da Covid-19

Hoje é comemorado o Dia Nacional das Trabalhadoras Domésticas, a data foi escolhida em homenagem a Santa Zita de Lucca, padroeira da categoria. Essa é a segunda vez que a data acontece em meio à crise causada pela pandemia de Covid-19, e a classe vem amargando os efeitos da pandemia constantemente. Parte significativa dessas trabalhadoras se expõe ao vírus diariamente, tanto no transporte público, quanto na casa dos patrões. Um exemplo do perigo que a profissão carrega em tempos de pandemia, aconteceu em março de 2020, com a primeira vítima fatal do coronavírus, na cidade do Rio de Janeiro, a empregada doméstica de 63 anos, que contraiu a doença da patroa, que voltara de uma viagem à Itália.

Casos como esse continuam surgindo nos noticiários, porém pouca coisa é feita para garantir a segurança dessas mulheres. Entrevistamos uma empregada doméstica, que preferiu não ser identificada, devido ao problema com os antigos patrões. Aqui vamos chamá-la de Barra, uma bairro nobre de Salvador. Para ela, a pandemia deixou marcas difíceis de apagar, a doméstica trabalhou por 23 anos em uma casa, no bairro mencionado acima. No ano passado, quando foi implementada a Medida Provisória 936/2020, que permitia a diversas categorias, entre elas a trabalhadores domésticos, a assinatura de acordos com seus empregadores, visando à redução da jornada ou a suspensão do contrato de trabalho, ela aceitou “morar” na casa dos patrões, após ouvir que esta era uma forma de mantê-la no serviço e garantir a segurança e integridade da família.

Porém, como revelou a doméstica, a situação foi diferente do que esperava: “passei a viver como escrava, não tinha horário de descanso, não podia sair da casa deles, sob ameaça de ser colocada na rua e mesmo com a pandemia, meus patrões continuavam recebendo visita”, conta. Um dia enquanto preparava a refeição da família para qual trabalhava, Barra passou mal e foi levada a uma UPA, lá testou positivo para Covid-19, foi hospitalizada e somente depois de dois meses pôde retornar para casa, onde se recupera das sequelas ocasionadas pela doença. “Pensei que ia morrer, eu amo minha profissão, mas não vou mais me sacrificar por patrão, no final fiquei doente sem nem sair da casa deles, e eles até hoje só me mandaram uma mensagem e foi para me dispensar”, relata.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), em 2018, 6,23 milhões de pessoas ocupavam a categoria de trabalhadores domésticos, sendo que 92,7% eram mulheres – em sua maioria negras, de baixa escolaridade e oriundas de famílias de baixa renda.

“Meu trabalho é digno como qualquer outro e merece ser respeitado, o importante é levar a comida para casa”, é assim que Maria Stella Bonfim, 53 anos, fala sobre a profissão. Doméstica desde os 14 anos, ela conta que já sofreu racismo, assédio moral e sexual em alguns locais onde trabalhou, porém esses fatores não a impediram de gostar do que faz, “as pessoas acham que nosso trabalho é vergonhoso, eu não concordo, meu trabalho é honesto, as pessoas falam que ser preta me fez empregada, na verdade foi a falta de oportunidades desse país”, fala.

Um estudo recente elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), acende o sinal vermelho para a vulnerabilidade das domésticas durante a pandemia de covid-19. Usando como base números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os autores destacam que cerca de 70% da categoria não possui carteira de trabalho assinada ou contribui com a previdência social.

Em outras palavras, elas atuam na informalidade e sem a cobertura de direitos importantes, como acesso ao 13º salário, seguro-desemprego, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e, ainda, a benefícios previdenciários. Além disso, são mal remuneradas e vivem a marginalização da profissão na sociedade.

Serviço:
Sindoméstico- Sindicato das domésticas (71) 3334-1734
Para denúncias o Ministério Público do Trabalho, disponibiliza o link abaixo: https://peticionamento.prt5.mpt.mp.br/denuncia

Alice Souza
Com supervisão de Valéria Lima

scroll to top