Eleito o melhor filme pelo público da 36ª Mostra de Cinema de São Paulo, “No”, de Pablo Larrain, chega aos cinemas brasileiros nesta sexta-feira (21) e traça um retrato da campanha que conseguiu comover a população chilena e dar término à ditadura do general Augusto Pinochet, em 1988, valendo-se de uma linguagem publicitária que dava nova cara para as até então sisudas campanhas políticas televisivas.
Estrelado por Gael Garcia Bernal, o longa-metragem tem pelo menos dois grandes destaques – a realização com uma câmera U-matic 3/4, o que transmite a sensação de uma textura que remete à estética dos anos 80; e o jingle “Chile, la alegria ya viene”, que é acompanhado de imagens que lembram comerciais felizes como os dos refrigerantes e de marcas de roupas para os jovens.
Pinochet ficou no comando do Chile entre 1973 e 1990, mas em 1988 tomou um duro golpe quando convocou um referendo a respeito de seu mandato, em função da pressão internacional que vinha sofrendo. Foi quando o jovem publicitário René Saavedra (muitíssimo bem interpretado por Gael Garcia Bernal) resolveu fazer uma campanha mais moderna e alegre a favor da não continuidade da ditadura. O resultado foi que a campanha diária de 15 minutos da televisão agradou em cheio a população, provocou revolta nos adversários e fez com que o “Não” tivesse 55,99% de votos.
O filme prende a atenção do espectador desde a primeira cena e termina de modo comovente com René Saavedra caminhando com o filho por entre os manifestantes felizes comemorando a vitória. É interessante observar as entranhas de como essa campanha, que, no início, obteve tanta resistência de todos os lados, aos poucos, foi se mostrando vitoriosa e empolgando os próprios responsáveis por ela.
Em 1989, foram realizadas as primeiras eleições no país desde 1970, quando Pinochet passou a presidência para o democrata-cristão Patricio Aylwin. Coincidentemente, no mesmo ano, no Brasil, também acontecia a primeira eleição direta desde o golpe de 1964, com a vitória de Fernando Collor de Mello. O que aconteceu nos dois países nos anos subsequentes é mais do que conhecido, lamentavelmente.
“No” carrega uma boa carga de nostalgia, como reconhece o diretor Pablo Larrain, que transforma essa campanha política num típico drama com final feliz, sem grandes ousadias narrativas. Mas trata-se de um registro histórico ficcional bastante importante e bem realizado. E é impossível sair do cinema sem cantarolar o jingle. Portanto, o filme é responsável por trazer de volta um momento em que havia grandes esperanças de mudança e tenta trazer, com sucesso, aquela alegria de volta.
Por: Guilherme Bryan, especial para a Rede Brasil Atual
Fonte: Rede Brasil Atual