*Cláudia Correia
No mês que comemoramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha – 25 de julho, com o objetivo de valorizar a participação social das mulheres negra na política, a Jornalista Cláudia Correia preparou a série “No peito e na raça: mulheres negras no poder em Salvador”.Dessa vez, com a palavra a Vereadora Ireuda Silva.
Ireuda Silva é mãe, palestrante, ativista social, racial e de gênero. Iniciou sua carreira no mundo empresarial, foi coordenadora da Iurd TV, canal da Igreja Universal do Reino de Deus durante 18 anos e criou o projeto Mulheres Notáveis, que se dedica a promover a autoestima e a autoafirmação da mulher. Atualmente, é graduanda em Gestão Pública e está no segundo mandato como vereadora, após ter sido reeleita com 12.098 votos (a mulher mais votada da Bahia). Na Câmara Municipal de Salvador, é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão de Reparação. Criou a campanha carnavalesca, reconhecida internacionalmente, “Meu corpo não é sua fantasia”, que visa alertar para o assédio sexual e a violência contra a mulher.
Atualmente é apresentadora do Programa Forte por ser Mulher, que trata de assuntos do cotidiano vistos pela ótica de mulheres. Feito por mulher, mas não apenas para elas, o programa vai além do conceito preconcebido de ‘universo feminino’ e traz uma temática múltipla, relevante e atual, com maior destaque para o combate à violência contra mulher. O programa lançado em setembro de 2019 tem a interatividade como foco, com transmissões às quintas-feiras ao vivo, via Facebook pela página da vereadora e YouTube. Ela é forte por ser mulher.
Como a senhora analisa o racismo no Brasil? Há avanços obtidos pela sociedade no combate a esse crime?
O Brasil continua sendo racista, trazendo uma herança do longo período escravocrata. Também um dos países mais desiguais do mundo, e talvez a maior parte dessa desigualdade está calcada na questão racial. É claro que há avanços no combate ao racismo, que não passa apenas por leis, mas também por educação: a mentalidade das pessoas tem mudado ao longo do tempo, mas tem sido uma mudança lenta e muito aquém do necessário para construir uma sociedade mais justa.
Como a senhora vê a presença da mulher negra na política no Brasil e os desafios que se colocam para essa participação?
A presença da mulher na política ainda é muito abaixo do necessário. E em relação à mulher negra, essa presença é rara. Isso se deve a uma série de fatores, praticamente os mesmos que limitam a presença do negro no mercado de trabalho, nas universidades e nos espaços de poder. Além disso, a mulher negra também enfrenta a barreira do machismo. Ou seja, para ela, a ascensão acaba sendo ainda mais difícil, porque é discriminada em diversos âmbitos.
Como o seu mandato tem atuado especificamente para defender e assegurar os direitos das mulheres e em particular das mulheres negras?
Quase todo o nosso mandato é focado na questão da mulher. Atualmente, sou presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, que nos possibilitou levar às ruas, no Carnaval, por dois anos seguidos, a campanha “Meu corpo não é sua fantasia”, que visa combater o assédio sexual e a violência contra a mulher. Nesse ano, fizemos ações online por conta da pandemia. Fora da comissão, idealizamos o SIMM Mulher, serviço da prefeitura de Salvador que capacita e encaminha mulheres ao mercado de trabalho, ajudando a diluir as barreiras existentes entre homens e mulheres, sobretudo as mulheres negras. Também lutamos para implementar a Guardiã Maria da Penha na Guarda Municipal para combater a violência contra a mulher. E conseguimos a Guardiã Maria da Penha nas Escolas, que promoverá uma série de atividades socioeducativas sobre violência contra a mulher, combatendo o machismo para formar cidadãos melhores desde o ensino primário.
*Cláudia Correia é Jornalista, Assistente Social e colaboradora do Portal Correio Nagô