Cláudia Correia*
No mês que comemoramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha – 25 de julho, é importante valorizar a participação social das mulheres negras, nas mais diversas áreas do conhecimento, das artes e da política.
No Brasil, a população negra corresponde a 53% dos brasileiros, mas, a luta contra as desigualdades sócio raciais e de gênero é histórica. A sub-representação nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na mídia e em outras dimensões da vida social deixa à margem 97 milhões de pessoas negras. Se o recorte for de gênero, o abismo é ainda maior, e ainda há baixa representatividade das mulheres negras.
No pleito municipal realizado de 2020, as 9 mil vereadoras eleitas representam 16% do total, frente a 84%, de 47,3 mil homens eleitos para as câmaras municipais no país. Os dados foram compilados pelo site Nexo. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral-TSE, nas eleições municipais de 2016, do universo de 57,8 mil vereadores eleitos no País, 7,8 mil eram mulheres – ou seja, 13,5% do total. Apesar do pequeno aumento no número de vereadoras entre 2016 e 2020, a representatividade feminina nas câmaras de vereadores brasileiras segue bem abaixo da proporção de mulheres no eleitorado. Conforme o TSE, as mulheres representam 52,5% do eleitorado brasileiro.
Ainda conforme o site Nexo, 6,3% dos vereadores eleitos na última eleição são mulheres negras. O levantamento indica que o número de mulheres não brancas que se elegeram vereadoras aumentou 22,84%, em relação à eleição de 2016. Os dados foram divulgados pela Agência Câmara de Notícias.
De olho nesse cenário, o Correio Nagô apresenta, no “Julho das Pretas” a série “No peito e na raça: mulheres negras no poder em Salvador”. Entrevistadas com exclusividade pela jornalista Claudia Correia, cinco vereadoras negras da capital baiana conversaram sobre a presença da mulher negra na cena política, abriram o jogo sobre o racismo e prestaram conta de suas ações parlamentares. Num universo de 43 vereadores e vereadoras, na maioria homens brancos, os perfis das entrevistadas revelam diversidade e muita determinação para encarar os desafios.
A novidade nessa legislatura da Câmara Municipal de Salvador é a eleição das “Pretas por Salvador”, candidatura coletiva, inédita na história política da cidade, lançada pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), no último pleito. Em outras capitais brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte também já existe a experiência desse tipo de mandato. Como a legislação brasileira ainda não prevê essa modalidade, formalmente apenas uma das três covereadoras, Laina Crisóstomo, assumiu o mandato, que é gerido coletivamente pelo grupo. Para garantir democraticamente o “lugar de fala” delas, as três foram ouvidas para a série.
*Cláudia Correia é Jornalista, Assistente Social e colaboradora do Portal Correio Nagô